Querido diário, quero registrar meu progresso todos os dias em 2025

Quem diria que um modelo de documento e um lembrete diário de preenchê-lo melhorariam minha vida?

Já fechamos a segunda semana de 2025, e venho conseguindo cumprir todos os dias o plano que adotei na virada do ano: fazer anotações diárias sobre minhas ideias, pensamentos e realizações a cada dia - para mim mesmo, e não pra compartilhar.


Print do meu post do Mastodon no dia 1/1 que anuncia a adoção do hábito de manter um diário pessoal de anotações, ideias, e coisas que eu quero colocar em perspectiva.

As minhas anotações, nesse caso, não são de produtividade, e sim pra formar perspectiva sobre como as coisas evoluem (permitindo revisões semanais do meu progresso pessoal, etc.)

Isso me permitiu ter mais perspectiva sobre os meus dias e gerou uma oportunidade diária para reflexão, que sempre prova ser valiosa para identificar que alguma coisa que na hora pareceu ser um fato isolado estava, na verdade, conectado a coisas que já vinham se formando em dias anteriores – e que de outra forma eu não perceberia a conexão. Recomendo muito!


Print de tela do Obsidian com o registro do meu primeiro dia do ano, preenchido.

O meu diário está sendo escrito com frases livres e soltas (na maior parte dos dias, a anotação inclui ao final até uma crônica propriamente dita), mas ter um modelo de documento pré-preenchido com algumas pistas de temas ("como dormi", "como o dia começou", "aonde eu fui", etc.) ajuda a puxar pra memória, ao fim do dia, os contextos que fazem lembrar as ideias, sensações. realizações e outros tópicos sobre os quais eu tenha algo mais fluido a registrar.

Claro que a ideia de escrever diários não é nada nova, e – mesmo dividido entre criar em papel ou no computador – eu optei por fazer o meu usando o recurso Daily Notes do aplicativo Obsidian, que eu já uso pra outras anotações minhas, e que comprovou se adequar ao meu jeito (que é mezzo crônica, mezzo bullet journal) de fazer anotações diárias.


Fragmento do meu modelo de preenchimento, ainda em branco, como apareceu para mim no dia 1º de janeiro.

Usando um recurso de modelos de documento do Obsidian, eu montei o texto-base pras minhas anotações diárias, aí a cada dia ele é criado (vazio, mas com as datas e links atualizados) automaticamente, e eu começo a preencher.

Eu temi, a princípio, que definir antes um conjunto de tópicos me engessaria, mas nem foi o caso - fica um relato bom e fluido, mesmo nos dias em que eu fujo pouco ao modelo e me limito a preencher as questões básicas, sem expandir.


Print da primeira crônica que escrevi no diário este ano, já no dia 1/1.

Quando estou inspirado MESMO, o que acontece várias vezes por semana, a anotação termina com uma crônica, como no exemplo acima, trazendo algo que esteve presente naquele dia para mim.

Mas o modelo de documento que eu criei pra mim no Obsidian também tem a dimensão oposta, completamente objetiva quanto à forma de preenchimento, e que algum dia me permitirá comparar em gráficos a evolução do ano (por enquanto só estou acumulando os dados): é um placar para o dia, em várias dimensões, a ser preenchido objetivamente mas só depois da reflexão causada pelo preenchimento do restante, que é textual:


Área “Placar do Dia”, no modelo de preenchimento, com campos objetivos para avaliação.

Desde então, e com a experiência de fichas de personagens de RPG, a área de Placar evoluiu no sentido de ganhar a seguinte nova descrição: “Marque X na alternativa que melhor descreve (nenhuma coluna deve ter mais do que 3 marcações)”.

Em resumo, e em conclusão: foi um hábito fácil de implementar, tem muitas formas de fazer, eu encontrei uma que funciona bem para mim, e recomendo a qualquer interessado que procure a forma que melhor o atenda, mas faça, porque vale a pena!

Sobre literatura

VOCÊ SABIA? Sempre que seu comportamento for julgado com base em algum livro, convém perguntar se esse mesmo livro também proíbe comer camarão e usar roupa de tecido misto – e aí promover seus ajustes conforme a resposta.

Não atrapalhe a comemoração alheia

Uma coisa que me deixa genuinamente TRISTE quando é com os outros - e que eu aprendi a ignorar quando é comigo – é uma dinâmica infelizmente comum nas redes:

1️⃣ A pessoa vitoriosa compartilha alegria por ter feito ou conseguido algo

2️⃣ Uma pessoa sem noção responde querendo ditar um próximo alvo (“já sabe espanhol, agora já pode aprender mandarim!”) a quem ainda está comemorando um feito anterior

3️⃣ Um terceiro quer saber métricas pra avaliar (“que distância?” "quantas páginas?”)

Se você faz o item 2 ou o item 3, favor melhorar urgente.

O prefeito chamado Prefeito

Quando eu era criança, morei por alguns anos ao lado de uma cidade chamada Guaramirim, que na época tinha uma peculiaridade bem pitoresca: o prefeito de lá se chamava Prefeito.

Lembrei disso hoje e fui procurar registros, pra ver se não era delírio - e foi comprovado, era mesmo fato real.

Forçar consenso pra terceirizar a culpa: não trabalhamos

A pessoa em posição de liderança querer forçar um consenso favorável à uma intenção sua, com evidentes falhas e causando danos, é uma manobra covarde para terceirizar o risco, sem ter que abrir mão dos louros.

Se der certo, é porque ele deu a ideia – mas se der errado, a culpa é coletiva, porque todo mundo concordou.

Tenho orgulho como profissional porque, em situações tensas e extremas – décadas atrás, em outra carreira, e com gestor que felizmente já sumiu há muito do mapa, felizmente –, eu tive a capacidade de ser a voz do dissenso, que inviabilizou essa tática e levou a sepultar a ideia torta que queriam impor.

Quem quer errar, ao menos tenha coragem de se expor às consequências.

O mundo mudou, mas precisa atualizar as escalas de medição

Essa cobertura clássica que diz “cidade Tal enfrenta chuva de um mês em apenas um dia" já está datada e não comunica mais, já que virou frequente ter precipitação de 100mm em um dia, e que já ninguém acha inédito quando vê precipitações de 200mm e até de 300mm em apenas um dia – ontem no bairro da minha irmã foi mais de 240mm em 12 horas, completo caos. 

Comparar os desastres, cada vez mais frequentes, com a média construída nas situações normais ao longo de anos, mesmo que recentes, já não atende mais a propósito nenhum, exceto o de sustentar aquele discurso – também ultrapassado – de que se trata de uma situação completamente excepcional, que os responsáveis não poderiam ter previsto. A mudança climática é um fato presente, não precisa mais ser previsto.

Entre tantas outras coisas que essa mudança exige, nós precisamos atualizar também as nossas referências e nossos termos de comparação. Comparar um desastre com outros desastres, talvez – e verificar como os desastres tiveram impactos diferentes em regiões com ou sem estruturas de prevenção reforçadas em anos recentes, ou que permitem menos ou mais impermeabilização do solo, canalização de cursos d'água, etc.


Foto da enchente de 17 de janeiro de 2025 em Florianópolis, com pessoas ilhadas sobre um carro cercado de água na altura de seus capô, em uma rodovia cuja mureta represou a água e se transformou em um grande açude.

Nesse sentido, as chuvas que em menos de duas horas pararam a minha cidade na tarde de ontem seriam um bom termo de comparação, pois recentemente a cidade aprovou medidas que legalizaram formas de tornar o solo da cidade ainda mais impermeável que antes.

Ontem e hoje estamos tendo água acumulada em lugares que antes escoavam. Como dizer que não poderia ser previsto? Aconteceu a consequência do que foi aprovado e executado. Choveu a quantidade que hoje em dia chove, mas o escoamento foi planejado para cenários mais antiquados do que dizer que choveu mais do que em um mês.

Como fazer sua autoavaliação de forma fácil – e honesta

Preencher a autoavaliação é complicado para quem tem autocrítica apurada e também para quem não tem um bom termo de comparação para saber o quanto está indo bem em cada quesito.

Mesmo quando você entende o valor da autoavaliação, sabe para quê ela servirá e sabe o quanto está disposto a ser sincero no preenchimento, resta a dificuldade prática de definir o que preencher.

Uma maneira simples de preencher as avaliações, nessas condições, tem 3 passos:

  1. ver quais critérios serão avaliados, e colocá-los ordem - do seu melhor ao seu pior.
  2. na ausência de um critério estabelecido, escolher qual a nota mais baixa e a nota mais alta que você irá se dar, e aí distribui-las nos quesitos ordenados do passo anterior - ou seja, esse passo vira uma escolha de quais quesitos ganharão a máxima que você escolheu, quais ganharão a sua mínima, e se tem algum no meio.
  3. enquanto você faz o Passo 2, acabará lembrando de evidências de cada item - anote-as de forma resumida, porque elas viram o fundamento do seu texto complementar (se necessário) ou de alguma justificativa futura que seja solicitada.

    Fim!

Cuidado com a ilusão da figura interna de autoridade

Estou convencido de que a indecisão que outras pessoas me relatam, muitas vezes, não é por não saber o que se quer, por não saber o que é melhor, ou por não saber o que é o certo: a pessoa se imobiliza porque fica aguardando a aprovação de uma figura interna de autoridade.

É isso mesmo: a pessoa internaliza as expectativas da mãe, do chefe, de alguém que quer impressionar, etc., e aí busca, sem perceber, a aprovação interna dessa figura que só existe na sua fantasia.

É sinal de uma necessidade grande de perceber isso e se libertar da amarra interior.

O custo oculto de ter sangue frio durante as crises

Durante toda a minha vida, eu – mesmo ansioso – sempre exibi o superpoder de me manter calmo e controlado DURANTE emergências.

Eu me preocupo antes, travo depois, mas DURANTE eu sou aquela pedra de gelo, racional e presente, que inspira e acalma os outros

É útil e toda equipe quer contar com alguém assim, porque é um atributo raro e valioso nessas horas (melhor ainda seria não passar por crises, né?), mas só chegando aos 50 eu descobri que isso é mais um traço do meu TEA. Tem que ter lado bom!

(mas só é bom durante a crise – o custo emocional se acumula e vem depois, quando estou sozinho e com o problema superado)

Precisamos aprender com as pedras demarcadoras dos tsunamis japoneses

Agora que ultrapassamos oficialmente a calamitosa marca de 1,5ºC de aquecimento global, é hora de repensar onde reconstruíremos depois de enchentes cataclísmicas, incêndios florestais em pleno cenário urbano, e outras calamidades que se repetem em ciclos cada vez mais curtos.

Depois dos grandes desastres, a frase que atrai votos e apoio é: “vamos reconstruir tudo”. É uma boa frase, e uma boa ideia, mas quando são desastres de grandes proporções, sujeitos a se repetirem sem prévio aviso, seria ideal reconstruir, sim – mas em um local menos exposto.

NÃO reconstruir no mesmo lugar a cidade devastada pela natureza é uma lição que os japoneses aprenderam há séculos – eles sabem que tsunamis se repetem, e que a tendência é as gerações seguintes reconstruírem na área exposta, e por isso passaram a deixar marcos que resistem ao tempo.


Print do site Atlas Obscura mostrando uma das pedras de tsunami japonesas, em Aneyoshi, indicando o ponto mais alto em que um tsunami do passado alcançou, e advertindo para não voltar a construir abaixo dali.

Essas pedras demarcadoras registram o ponto que os tsunamis do passado alcançaram, com a advertência: lembre da calamidade, não construa abaixo deste ponto.

Precisamos imitá-los, e não temos mais o luxo de intervalos multigeracionais - nossos desastres já aceleraram, e vão acelerar mais ainda.