Como eu salvo links e preservo conteúdos no mundo pós-Pocket

Uma visão geral dos aplicativos e técnicas que eu uso para salvar links e arquivar conteúdos da web e de serviços on-line.

Hoje é o último dia de funcionamento previsto para o Pocket, a ferramenta de arquivamento de links que “ajudou milhões de pessoas a salvar artigos e descobrir histórias que valem a pena ler”, nas palavras da mensagem de despedida da Mozilla, que comprou essa ferramenta em 2017, quando ela já tinha 10 anos de sucesso como uma extensão open source para o Firefox.

O anúncio de que o Pocket seria descontinuado veio no final de maio, dando aos usuários pouco mais de um mês para encontrar suas estratégias de transição. Eu tenho várias opiniões sobre essa decisão da Mozilla, mas hoje meu foco é outro: compartilhar como eu faço para salvar links e conteúdos da web.

Antes de prosseguir, um aviso: eu menciono ferramentas no texto a seguir, mas elas são meros acessórios e você pode escolher outras, pois este artigo é sobre o método e a técnica.

Desde a década de 1990 eu já vi saírem do ar muitas ferramentas on-line que eram vitais pro meu uso.

Estou na web desde 1993, e já vi saírem do ar muitas ferramentas on-line que eram vitais pro meu uso (inclusive tenho saudades até hoje do Google Reader). Aprendi algumas lições com isso, e hoje prefiro alternativas que me ofereçam algum grau de garantia de continuidade, por meio de características como:

  • Armazenar os dados no meu próprio disco
  • Usar formatos abertos ou amplamente suportados (como txt, html, markdown, mpeg-4 etc.)
  • Desenvolvimento coletivo (open source, se possível)

São preferências, e não regras estritas, e elas trazem alguns custos também, como ter que gerenciar armazenamento e backup, e eventualmente abrir mão de algum recurso ou comodidade adicionais que outras ferramentas oferecem – como, por exemplo, os recursos de descoberta de conteúdo, que o Pocket oferecia.

Outro elemento fundamental do meu modelo de atuação é perceber que as coisas que eu faço estão interligadas, ou seja, os mesmos fundamentos que eu aplico à gestão da minha produtividade podem ser aproveitados no que eu faço por hobby, e vice-versa – no caso, isso se torna relevante porque eu aproveito para o gerenciamento de links e conteúdo on-line princípios (como a separação entre a fase da coleta e a do processamento) que são familiares a quem conhece métodos como o GTD ou o meu querido ZTD.

Começando pelo final: como fica o resultado

Para melhor ilustrar este post, no último final de semana eu lembrei de salvar uma tela de como ficou o Obsidian ao final do processamento:


Print do Obsidian com uma seta destacando a barra lateral, onde foi colocado um retângulo para destacar 22 artigos, com nomes apenas parcialmente visíveis devido à largura estreita da janela.
Print do Obsidian com uma seta destacando 22 artigos na barra lateral.

Aqueles 22 posts em destaque ali na barra lateral são os que eu salvei pra ver depois, na Coleta ao longo da semana passada, e no final de semana sobreviveram à triagem dos que eu queria preservar como referência, ou para usar em alguma coisa depois.

A seguir, explico os detalhes de como cheguei a esse resultado.

Fase 1 - a coleta

A coleta é uma etapa permanente e contínua, ou seja, todos os dias, em todos acessos a todos os dispositivos, eu estou sempre praticando a coleta de links.

No meu caso, a coleta acontece em alguns cenários específicos, como:

  • Isso aqui pode ser útil, preciso arquivar
  • Isso aqui parece interessante, preciso ler depois
  • Me mandaram isso aqui mas não tenho como olhar agora

O importante sobre a fase da coleta é sempre lembrar que ela não tem categorização, nem juízo de valor, e corresponde apenas a ir colocando os links em uma grande caixa de entrada, que vai ser processada só depois, em um momento indefinido. Assim, se algum link exige ação imediata ou em momento definido, ele não deve ser coletado, e sim tratado imediatamente, ou colocado na agenda.

Outro conceito essencial é o da caixa de entrada unificada: isso significa que os links tem que ir pra uma mesma lista, ordenada em ordem cronológica do momento da sua coleta, e acessível a partir de todos os dispositivos e aplicativos que você usa para descobrir conteúdos e links, ou que outra pessoa possa usar para lhe enviar conteúdos on-line.

A caixa de entrada de links é efêmera: os links são descartados após serem processados. Por isso, escolha armazená-la onde for mais cômodo e prático.

No meu modelo específico, a caixa de entrada é completamente descartada após o processamento, então qualquer recurso ou app de armazenamento de links que funcione em todos os seus dispositivos pode servir, desde que esteja acessível sem esforço em todos os apps que você usa, e você confie neles o suficiente para armazenar os seus links por uma semana (ou o tempo necessário para concluir o seu ciclo de processamento).

Isso significa que escolher o app para a caixa de entrada de links é mera questão de acesso e preferência: você pode usar um recurso nativo do seu sistema operacional ou navegador, ou escolher entre uma infinidade de apps e recursos on-line, como Milanote, Instapaper, Raindrop, Omnivore e uma infinidade de web clippers.


Print de uma notificação na web confirmando o armazenamento de uma URL
Notificação confirmando o armazenamento de uma URL no meu serviço de clipagem para posterior processamento.

No meu caso, eu uso pra isso uma ferramenta desenvolvida por mim mesmo, e que fica disponível em todos os recursos de "Compartilhar" dos apps de celular e do computador. Mas eu optei por isso apenas porque queria exercitar algumas coisas de programação – quase todas as ferramentas que eu listei acima atenderiam plenamente a essa minha necessidade e satisfariam ao mesmo critério de ficar visível no recurso de Compartilhar de todos os apps.

Ao escolher uma ferramenta para a sua etapa de Captura, lembre-se de não ceder à tentação de já tentar consolidar com a fase de processamento – por exemplo, não escolha usar o Send to Notion ou o Clip to Obsidian pensando "aí eu já posso ir categorizando" ou "aí já fica arquivado" – a grandeza de separar Captura e Processamento é poder ter os dois modos mentais: a captura permanente e despreocupada, e o processamento em momentos específicos mas sem hora marcada nem compromisso de processar tudo de uma vez só.

Fase 2 - O processamento

O processamento é completamente distinto da coleta: é um momento de atenção direta e intencional aos links coletados, em que eu trato todos os links coletados mas ainda não processados, começando do mais antigo, e decido o que farei com cada um deles.

Em média eu coleto cerca de 30 links por semana, e os processo todos juntos no sábado – mas às vezes acumula (tudo ou uma parte) para a outra semana, e não tem problema nenhum. O Todoist me ajuda a lembrar de fazer isso no sábado, e também me sugere dar uma olhada nas quartas-feiras pra ver se não tem algum excesso a ser tratado ou adiantado.

Processar cada link é um ato simples, que pode ter de 1 a 5 passos, dependendo do conteúdo e do interesse.

O ato de processar, em si, é simples, e se resume a, começar pelo link mais antigo e, para cada link:

  1. Ver se é algo que eu tenho como tratar imediatamente;
    • Caso não seja (por exemplo, se for um vídeo longo ou algo que é melhor fazer em outra data) eu preservo esse link na forma de uma anotação na agenda para ser visto em outro momento, e encerro imediatamente o processamento dele.
  2. Ler ou assistir o conteúdo
  3. Decidir se é algo que eu desejo preservar;
    • Caso não seja (por exemplo, se a leitura nesse momento já cumpriu a finalidade de ele ter sido coletado, ou se eu li e notei que na verdade ele não me interessava), eu encerro imediatamente o processamento dele.
  4. Preservar o conteúdo do link (eu faço isso de formas diferentes para conteúdo da web em geral, vídeos, threads do Mastodon e conteúdos do Instagram);
  5. Encerrar o processamento do link.

Eu repito a rotina acima para cada link que estiver na fila, e no meu contexto a ideia de "encerrar o processamento do link" corresponde a removê-lo da fila que é gerada durante a etapa da coleta – isso pode ser feito de várias formas: apagando, marcando como lido, movendo para uma pasta etc., conforme o modelo usado no aplicativo que você usa para a coleta.

As ferramentas que eu uso

Os links que eu opto por armazenar vão todos para o Obsidian, que atende aos meus requisitos de armazenar tudo no meu próprio disco, de maneira estruturada e em formatos abertos (no caso, o markdown), então estará tudo disponível caso de uma hora para outra a ferramenta deixe de estar disponível.

Eu publiquei uma longa thread sobre o Obsidian, com muitas dicas, e nela eu falo sobre várias das técnicas que eu uso para organizar esse conteúdo todo que armazeno nele.


Print da tela de configuração do Obsidian Web Clipper no meu navegador
Configuração do plugin do Obsidian Web Clipper no navegador Safari

Para converter o conteúdo da web e arquivá-lo no Obsidian, eu uso um aplicativo à parte, feito pelo mesmo autor: o Obsidian Web Clipper, que é open source e, apesar do nome, não é exclusivo para o Obsidian, podendo exportar da web para uma série de aplicativos, ou mesmo diretamente para um arquivo no seu disco. Ele tem plugins para vários navegadores, e permite definir um ou mais templates para armazenar os conteúdos do jeito que você preferir.

Para os demais tipos de conteúdo que eu arquivo com frequência, uso os utilitários e serviços a seguir:

Claro que não posso oferecer suporte ou garantia sobre eles (converse com os fornecedores!), mas compartilho para quem estiver em busca. Você pode, é claro, substituir pelos que preferir ou funcionem melhor na sua plataforma.

E, em conclusão, repito: o mesmo que eu faço acima poderia ser feito com várias outras ferramentas, e também com outros procedimentos – eu compartilhei como eu faço, e quem sabe poderei ajudar a inspirar mais alguém que esteja em busca de uma solução similar.

O tchau era tchau mesmo!

Uma coisa que as pessoas da minha geração esquecem, e que as gerações atuais não conseguem visualizar, é que até a metade dos anos 90, quando algum amigão mudava de cidade, ele sumia da sua vida pra sempre, de uma vez só, e imediatamente.

Era raro se mudar sabendo qual seria seu novo telefone (demoraaaava), e escrever cartas pessoais já tinha saído de moda lá pelos anos 50 (embora ainda acontecesse, até).

Isso está entre as coisas que a internet revolucionou – não apenas por permitir manter o contato à distância com certa facilidade, mas também por ter permitido, especialmente por meio das primeiras redes sociais, reconstruir esses contatos perdidos nos anos 1980 e 1990.

Virei fã desses carrinhos de supermercado com leitor de código de barras e de cartão

Ontem de manhã eu fui fazer as compras da semana e escolhi ir no supermercado da Costeira do Pirajubaé, que fica ligeiramente mais longe, mas oferece a opção de carrinhos inteligentes.

No caminho, percebi que eu vou lá POR CAUSA dessa comodidade.


Foto de 6 carrinhos de supermercado, alinhados lado a lado. Eles são de material plástico, em cores preto e verde, e em cada um dá para ver que há uma tela de 7 polegadas, um leitor de código de barras e uma maquininha de cartão. Na parede há um bnanner que diz Compra Inteligente.
Foto dos carrinhos inteligentes alinhados na entrada do supermercado da Costeira do Pirajubaé

Os carrinhos inteligentes são bem similares a um carrinho de compras clássico (grandão), mas com um grande diferencial: cada um deles tem seu próprio leitor de código de barras e sua maquininha de cartão de crédito, e assim a gente escaneia os produtos enquanto vai pegando nas prateleiras, e ao final paga tudo sem precisar passar por fila de caixa.

O fluxo é assim:

  1. A cada produto que você pega na prateleira, precisa passar pelo leitor de código de barras do carrinho, que aí libera pra colocá-lo no compartimento de compras (onde tem sensor de peso e movimento, câmera apontada pro seu interior, e provavelmente outras medidas de monitoramento e proteçao contra furto)
  2. Caso seja produto a granel (aqueles que precisa pesar, tipo maçã ou batata), tem sempre por perto alguma balança à disposição pra pesarmos, e elas emitem o código de barras que permitem o procedimento acima.
  3. Ao final da compra, você vai com o carrinho até uma doca de saída, que libera pra encerrar a compra e pagar (na máquina de cartão que está afixada ao próprio carrinho).

Nesse passo 3 há um funcionário sempre por perto, e aparentemente o sistema diz a ele se é necessário inspecionar o conteúdo de cada carrinho - já houve casos em que fui inspecionado, e em vários casos encerrei a compra sem inspeção (nesses casos os sensores e câmera devem ter dito ao sistema que estava tudo bem).

Toda a interação acontece pelo módulo digital de cada carrinho, com tela no estilo tablet, leitor de código de barras integrado, e uma maquininha de cartão afixada.


Foto tirada da parte de trás do carrinho, mostrando a tela, o leitor de código de barras e a máquina de cartão.
O módulo de interação, na parte de trás do carrinho.

A tela é sensível ao toque, mas eu só chego a tocar nela no início, pra dizer que não sou membro do “clube de descontos” e dar meu CPF, e ao final, pra escolher se quero pagar por débito ou crédito.

O restante da interação é uma longa repetição de passar códigos de barras pelo leitor e guardar produtos no carrinho – o que já é bom no dia-a-dia, porque eu não sou grande fã de interação pessoal no varejo, e fica muito melhor em dias de filas longas nos caixas tradicionais.

Chegou meu teclado TH40 e eu curti muito

O versátil teclado TH40 é um teclado 40%, pequenino mas com teclas de tamanho normal, facilitando a digitação confortável e sem ocupar muito espaço na mochila.


Foto do teclado TH40 na minha bancada, ao lado de um bloco e de uma caneta para permitir percepção da proporção de seu tamanho - a largura é de 25 centímetros.
O TH40 na minha bancada, conectado ao celular para digitar trechos deste post.

Naturalmente, para ser menor e manter o tamanho das teclas, um teclado 40% precisa ter menos teclas – e as 44 teclas do TH40 excluem a fileira dos números e a das teclas de função.

Acrobacias com a tecla Fn

Claro que isso não significa impossibilidade de digitar números ou usar teclas de função nele – mas isso exige combinações, que usualmente envolvem pressionar a tecla Fn em conjunto com outras teclas, como se fosse um tipo especial de Shift que, ao invés de maiúsculas, produz significados secundários para as teclas.

Um diferencial do TH40 é trazer, além da barra de espaços bipartida (que vem ficando comum em teclados pequenos), uma tecla Fn posicionada entre as duas metades da barra de espaços, facilitando alcançar as combinações de teclas. Além disso, como também é comum, cada uma das metades da barra de espaços também pode ser configurada como se fosse uma tecla Fn adicional, dando acesso a mais funções quando pressionada em conjunto com outras teclas.

Camadas estratégicas

Para memorizar – e conseguir usar – os símbolos que não estão impressos na tecla física, é necessário definir mapas fáceis de memorizar, e com combinações fáceis de alcançar durante a digitação.

Isso é diferente para cada pessoa: quem digita textos vai preferir facilitar acesso a símbolos de acentuação e pontuação, quem programa vai precisar mais dos operadores matemáticos, e assim por diante. Além disso, há muitas oportunidades para personalização para destros e canhotos, entre outras.

Felizmente o TH40 é reconfigurável, porque os mapas de teclas que vem pré-configurados nele não são muito práticos, e privilegiam permitir a inclusão de todos os recursos que interessam ao público “gamer” (incluindo uma infinidade de tipos de função de personalização das luzes, cores, brilhos, tonalidades e efeitos dos leds das teclas).

Para reconfigurar as combinações de teclas, há várias alternativas: o meu modelo é compatível com o utilitário VIA, que roda diretamente no navegador e permite redefinir todas as teclas, gravando o resultado na memória permanente (mas regravável) do próprio teclado.



Acentuação e pontuação - Mapa da minha camada 1, configurada no aplicativo VIA

O print acima mostra, numa tela do VIA, a minha configuração pessoal para a camada 1, que no meu caso é acessada mantendo pressionada a tecla (veja na foto que abre este post, ela é a que fica entre as duas metades da barra de espaços).

Note que a configuração acima privilegia os acentos e a pontuação, mas também dá acesso ao seletor de conexões Bluetooth (BT1 a BT3) e aos números. Eu também configurei uma segunda camada (acessível mantendo pressionada a metade direita da barra de espaços) que privilegia os números e operadores matemáticos, e também dá acesso às teclas de função F1 a F10.

Além disso, eu trapaceei na camada default (a das teclas pressionadas isoladamente, sem combinação): nas teclas do canto inferior direito, onde estão impressos os símbolos dos espelhos das teclas modificadoras (Shift da direita, Control da direita, etc.), eu configurei as 4 setas direcionais de movimento do cursor – e se eu QUISER usá-las como um shift (ou control, etc.) adicional, basta pressioná-las em conjunto com a já mencionada tecla . Além disso, reconfigurei a tecla que seria a Caps Lock (abaixo do Tab) para passar a ser a Esc.

Essa configuração não é (muito) complicada de fazer, e eu registrei um detalhado passo a passo de como configurei meu teclado TH40, que você pode visitar se quiser saber mais.

Mais detalhes, e onde eu comprei

O TH40 é um teclado mecânico 40% (ou ultra-compacto) com teclas individuais em tamanho e espaçamento normais, feito pela Epomaker, com 44 teclas, 4 camadas configuráveis usando o aplicativo VIA, que conecta via USB, Bluetooth (memoriza até 3 dispositivos) e um plug remoto (de uso opcional) para conexão sem fio via USB 2.4GHz.

Sempre me perguntam, por isso já aviso: este post não é comercial, e não ganho nada com os links a seguir, que são apenas registro de onde eu comprei – e não necessariamente são o melhor preço, a entrega mais rápida, ou o fornecedor mais confiável, mas apenas o fornecedor que estava com a melhor promoção na dia da compra.

O produto que você vê na foto que abre este artigo é composto por um teclado Epomaker TH40 e um conjunto de teclas chamado KBDiy GMK Rome Keycap SA Profile (que é lindo e confortável e, embora traga até a barra de espaços bipartida, naturalmente não tem a tecla Esc no tamanho adequado que eu gostaria de colocar na posição usual do Caps Lock, e infelizmente também não tem a tecla Backspace no tamanho adotado no TH40 – improvisei com outras teclas por enquanto, e removi digitalmente a identificação delas na foto para evitar confusão).

O TH40 já vem com teclas físicas, e elas são bem usáveis, não há necessidade de você comprar um conjunto adicional, que serve apenas para personalização de visual ou conforto – no meu caso, eu gosto do visual dos teclados vintage (das máquinas de escrever que eu via os adultos usando na minha infância), então aproveitei.

Saiba mais

Leia tudo que eu descrevi longamente sobre a configuração do meu teclado Epomaker TH40.

Como se comunicar com o cliente que não gosta de falar requisitos e prazos

Às vezes o cliente é daquelas pessoas complicadas, que a gente valoriza mesmo assim, mas ele não gosta de dizer os requisitos nem o prazo de entrega, pois acha que é tudo óbvio - chega e diz “me faz o projeto de uma catedral”, e acha que era isso.


Três ilustrações, em estilo quadrinhos, mostrando variadas formas e atitudes na comunicação interpessoal

Frequentemente, as mesmas pessoas que não gostam de responder pergunta, gostam de corrigir. Quando for um relacionamento já estabilizado, o truque passa a ser falar alguma coisa inofensiva concordando, e aí fazer duas perguntas obviamente erradas:

  1. “Precisa banheira de hidro na sacristia?” – horrorizado, ele vai responder uma lista inicial do que precisa, que depois a gente expande em novos contatos.
  2. “Precisa ser pra hoje?” – surpreso, ele vai dizer a expectativa de prazo, que ainda vai ser muito curta, mas depois a gente ajusta em novos contatos.

Depois que a gente coloca a pessoa sentindo que foi ela quem teve a iniciativa de falar em escopo e prazo, tudo fica mais fácil.

As velhas novidades góticas

Uma vez eu fui levar um paletó na lavanderia e a atendente era uma mocinha toda de preto, cabelo preto liso, com um dos braços tatuados com um corvo e no outro a palavra “nevermore”.


Reprodução de ilustração mostrando o rosto de Edgar Allan Poe em transição para uma revoada de corvos, em alusão à sua célebre obra O Corvo

Eu fiz o que se faz nessas horas: enquanto passava o cartão, do nada perguntei qual a explicação preferida dela pra morte do Edgar Allan Poe.

Ela, assombrada, quis saber como eu conhecia ele, e como descobri que ela curtia.

Eu sempre me divirto com as gerações novas achando que as coisas clássicas chegaram só agora 🤣

Comprovado: podemos ser produtivos em semanas de 4 dias de trabalho

Na Finlândia mais de 80% dos trabalhadores já podem optar pela semana de 4 dias, e deu tão certo que até o PIB cresceu.

Alguém me disse que esse mês de abril cheio de feriados é a prova de que podemos ser produtivos em semanas de 4 dias, e vou te dizer: não sei se prova alguma coisa, mas que faz pensar, faz.

Pra quem precisa de provas mais consistentes, um bom caminho é olhar o que a Finlândia fez: hoje mais de 80% da força de trabalho de lá já pode optar por fazer só 4 dias por semana (mantendo o mesmo salário).


Sanna Marin, a primeira-ministra da Finlândia que é grande defensora da jornada semanal de 4 expedientes.

Os finlandeses começaram a testar a semana de 4 dias em 2019, com 1% da força de trabalho – e deu tão certo, que o PIB do país cresceu 5%, e o desemprego permanece baixíssimo, estacionado na casa dos 3%.

Os finlandeses definiram uma estratégia baseada em eliminar ineficiências.

E o mais interessante: ao invés de se limitar a tentar fazer a produção de 5 dias caber em 4 (como foi o teste da Bélgica), os finlandeses definiram uma estratégia baseada em eliminar ineficiências.

Na rodada de testes participaram profissões variadas (da professora de jardim de infância aos funcionários do hospital, passando por indústria, comércio e escritórios), e todos foram orientados a remover passos desnecessários nos procedimentos, reduzir reuniões que não traziam valor, e melhorar a priorização.

O resultado vem sendo estudado atentamente, não só na Finlândia como no exterior, e as pesquisas confirmam: "a produtividade permaneceu a mesma ou melhorou na maioria dos locais de trabalho". Ao mesmo tempo, os trabalhadores relataram estar menos estressados, menos expostos aos riscos de burnout, e com mais tempo e oportunidades para suas vidas pessoais e familiares, hobbies e até para o consumo.

O sucesso alcançado pela Finlândia inspira outros países: a Espanha já apresentou seu piloto de três anos envolvendo 6.000 trabalhadores, enquanto a Alemanha, o Reino Unido, Portugal e a Nova Zelândia, entre outros, também estão testando ativamente modelos de semana de trabalho mais curtos, cada um adaptando o conceito à sua própria dinâmica do trabalho.

Mudança de identidade

Ontem ficou pronta e fui buscar a minha nova carteira de identidade, contendo simbologia PCD – no meu caso, só a do canto inferior direito da imagem anexa: a fita que, no padrão adotado nesse documento, indica que a pessoa tem TEA.


Modelo de carteira de identidade contendo exemplo de 5 simbologias PCD disponíveis no documento: mobilidade, auditiva, intelectual, visual ou autismo

Foi super fácil solicitar, mas a comprovação exigia levar um atestado em um modelo especial para fins de emissão de documento de identidade.

Demorou quase 2 meses pra ficar pronta, devido a uma troca de sistema, mas o único prejuízo foi a demora – que nem foi tão grande assim, considerando que meu documento anterior, emitido na década de 1980, tinha validade indeterminada e ainda servia pra me identificar, se eu precisasse 🤣

Compartilhando sem servidor: file.pizza

🍕💾 Anota aí: esse site permite compartilhar arquivos diretamente entre o teu computador e o de outra pessoa.

Tu arrasta o arquivo pra janela do site file.pizza, mas ele não vai pra "nuvem": o site gera uma URL (e um QR Code, pra quem preferir) que tu pode passar pra outras pessoas, que aí fazem o download diretamente da tua aba do navegador (e só enquanto ela permanecer aberta e conectada).

Se tu preferir, dá pra colocar senha, também.

Navegando nos diretórios do terminal com CDPATH e bash-completion

Venho trazer a palavra da variável $CDPATH e do utilitário bash-completion, que juntos facilitam muito navegar pelos diretórios do seu sistema, quando usamos o terminal.

Não são recursos novos1, mas não conhecê-los leva os usuários a criarem soluções trabalhosas2 e frequentemente menos intuitivas para resolver a mesma questão: como chegar rapidamente ao subdiretório desejado, sem ter que digitar o caminho inteiro dele a cada vez.

A variável $CDPATH faz pelo comando ‘cd’ o que a variável $PATH faz pelos executáveis: quando definida, ela indica uma lista de diretórios onde o sistema irá procurar o subdiretório que o usuário mencionar como parâmetro do comando ‘cd’.

Por exemplo: se eu estiver no diretório ~/bin, e desejar ir para o diretório ~/devel/social/feedbot, o comando usual seria: cd ~/devel/social/mastodon-bot, porém se o diretório ~/devel/social fizer parte da lista que está no $CDPATH, bastará digitar cd mastodon-bot.

O mecanismo é simples: quando você usa o comando cd, a shell se encarregará de procurar o diretório mencionado dentro de cada um dos diretórios incluídos no $CDPATH e, assim que encontrar, completará a mudança de diretório. Há exceções e casos especiais, claro, mas o funcionamento básico é esse.

No meu caso, a variável está definida no arquivo ~/.bashrc, com uma linha como esta:


export CDPATH=".:..:$HOME/devel/social:$HOME/devel/:$HOME:/Volumes/WINCHESTER:/Volumes/SSD2TB"

Note que a minha lista acima começa com menção aos diretórios . e ... Isso não é obrigatório, mas garante que a shell sempre inicie a pesquisa pelo diretório corrente (ou .) e pelo pai do diretório corrente (ou ..).

Só isso já seria suficiente para adiantar a vida de quem passa os dias no terminal, mas o utilitário bash-completion traz um conforto a mais, para quem usa a shell Bash: com ele, o completamento automático (com a tecla Tab) no comando cd também passa a considerar a variável $CDPATH - em uma solução intuitiva e prática, que se torna natural já na primeira vez que você usa.

Você pode saber mais sobre o bash-completion e suas múltiplas outras utilidades na página dele no GitHub, mas considere que o provavelmente o seu sistema operacional ou distribuição tem um pacote pronto para instalá-lo (caso não tenha vindo instalado como default), e talvez até indique ou se encarregue de gerar as duas linhas que precisam ser inseridas no ~/.bashrc para ativar esse recurso a partir da abertura da sua próxima shell interativa.

No meu caso foi só instalar via Homebrew, colocar as linhas no ~/.bashrc, abrir um novo terminal, e começar a usar. Fácil e imediato.

 
  1.  Segundo a documentação do Open Group, a variável $CDPATH surgiu na shell do Unix System V (1983), mas mesmo antes disso o BSD já tinha um recurso análogo, na forma do parâmetro cdpath, na sua C Shell.

  2.  Não que reinventar a roda deixe de ser uma oportunidade interessante de aprendizado e até de entretenimento…