Abaixo a positividade tóxica

O que promove confiança não é te dizerem que você vai conseguir (mesmo quando sabem que você provavelmente não vai) – o nome disso é positividade, frequentemente positividade tóxica, e raramente ajuda alguém.

Aliás, a positividade tóxica é aquela mesma atitude de insistir em ver o copo meio cheio quando na verdade o copo já está quebrado, totalmente seco e até foi recolhido pela turma da segurança no trabalho.

Também é insistir na fala vazia sobre fazer uma limonada, quando a vida só deu limões podres pra pessoa, não deu açúcar nenhum, não deu nem copo, e ainda a proibiu de usar facas.

Tetesto – deu pra perceber, né?

O que promove confiança é te mostrarem ou criarem condições para que, mesmo se você não conseguir desta vez, tudo bem – ou pelo menos que você terá oportunidade de tentar de novo tendo aprendido alguma coisa e sem ser prejudicado.

Isso é raro e é algo a ser valorizado.

A atenção é mesmo o grande diferencial do século 21

Querido diário, eu fiz 51 anos, então você vai ter que me perdoar por já ter começado a ter opiniões sobre farmácias.

Após passar anos pandêmicos usando quase só a farmácia do posto de gasolina (pela literal conveniência de aproveitar a viagem para fazer mais coisas), ela começou a frequentemente me deixar na mão, e de nada vale a conveniência se eu sempre acabo tendo de ir a uma segunda farmácia logo depois.

Hoje era dia de repor os remédios de uso contínuo e, mesmo tendo abastecido o carro, eu não fui nela, e optei por ir diretamente na Rua das Três Farmácias – uma rua aqui perto que, curiosamente, tem 3 farmácias quase vizinhas.

A Rua das Três Farmácias é um pouco contra-mão pra mim. Literalmente, até, pois preciso ir adiante e depois fazer um retorno. Só que a conveniência de saber que é quase nula a chance de sair de lá sem algum remédio da minha lista compensa – se falta em uma, complemento nas outras duas.

Escolhas são renúncias, e com a Rua das Três Farmácias não seria diferente: eu preciso escolher em qual farmácia entrarei primeiro. A escolhida tem grande chance de ser a que me fornecerá todos, ou a maioria dos medicamentos que eu fui buscar, mas todas tem seus méritos:

  • a primeira é da mesma rede gaúcha da farmácia do posto, mas tem o estacionamento mais conveniente;
  • a do meio é de uma rede da minha cidade natal, e geralmente tem a maior variedade e suprimento;
  • a terceira é da rede nacional inimiga da privacidade, tem os melhores preços, e fica convenientemente localizada em frente a uma lanchonete com ótimos pasteis.

Quando estou em situação pastelífera, a terceira sempre ganha. Se está chovendo forte, o estacionamento da primeira fica especialmente convidativo. Mas nos demais dias, o embate sempre foi direto e franco entre elas, com chances para todas.

Só que hoje aconteceu algo que pode ter mudado definitivamente as minhas escolhas futuras: eu resolvi arbitrariamente parar na farmácia do meio, e o atendente não estava atrás do balcão, e sim perto da porta. Ele deve ter me reconhecido de visita anterior, pois logo perguntou: “trouxe aquela tua listinha?”.

É, querido diário, eu sou organizado, levo a listinha em papel. Entreguei a ele, que me disse: “pode aguardar aqui mesmo”, e assim fiquei junto ao caixa, na entrada na loja, sem ter que ir ao balcão, nos fundos.

Ele voltou do estoque trazendo tudo que eu precisava, em alguns casos com mais de uma alternativa (de marca ou genérico? pra 30 ou 60 dias? etc.), e nesses casos já me dizia qual a alternativa de menor custo por dose.

Ou seja: fez tudo que poderia ser esperado de um profissional. Parecia até aquele atendimento que hoje é tão raro, que meus pais e avós tinham na única farmácia em que iam ao longo da vida inteira, quando os atendentes trabalhavam lá por longos anos e conheciam os hábitos e preferências dos clientes.

Hoje o mercado de trabalho e a prestação de serviços não são mais assim – não é culpa dos atendentes. Mas aí que está: nesse caso específico, ficou bem perto disso. A atenção desse atendente certamente me fará voltar lá mais vezes.

Exceto, é claro, se eu estiver precisando de pastel.

Um expansor de threads para o fediverso, com atenção especial à privacidade.

Eu uso muito serviços on-line do tipo “unroll”, que servem para apresentar em forma de documento o conteúdo de uma thread. Existem alguns desse tipo para o fediverso, mas nenhum atendia exatamente o que eu queria, então eu adaptei um para mim, a partir do template disponibilizado pelo @patrickmcurry@mastodon.online (thanks!)

Ficou legal, e quero compartilhar com vocês: expansor.online

Eu uso principalmente para expandir as minhas próprias threads, quando quero postá-las também em algum outro formato, tipo aqui no meu blog. Mas também me serve bem quando quero arquivar algum texto no Obsidian.

O template do Patrick já dava bastante atenção à privacidade, e eu ampliei esse foco (e está bem descrito na documentação). Também dei um trato na acessibilidade. Não sou javascripteiro, então ainda tem bastante coisa a aprimorar – mas para meu uso já está bem funcional.

Para conhecer, é só visitar https://expansor.online/ , colar a URL de alguma thread e, se as configurações da instância e preferências de privacidade do usuário permitirem, ela será expandida.

Também dá para usar URL com referência à thread que você deseja expandir - por exemplo, para expandir a thread em que eu falei sobre organizar festas que acolhem bem os autistas, visite a URL abaixo:

https://expansor.online/?#url=https://social.br-linux.org/@augustocc/113704287818891733

Espero que seja útil! E tem documentação, também.

Autismo para não-autistas - um exemplo de como funciona para mim

É difícil explicar, no dia a dia, como é a experiência de ter autismo.

Mesmo quando se conhece os conceitos, as características como rigidez cognitiva, stimming, hiperfocos, graus de desconexão em relação às sensações etc. tendem a ser percebidas como fatores isolados, excentricidades ou esquisitices, ainda mais quando ocorrem em uma pessoa que na maior parte do tempo os mascara bem, alcançando – na visão dos outros – alta adaptação ao seu meio.

Hoje de manhã percebi em mim um exemplo de interação entre duas dessas características, que resolvi anotar pois talvez ajude a exemplificar ambas a quem não as tem mas deseja entendê-las, e apresentarei como uma soma de fatores.

  • Fator 1 - Ineficiência do link automático entre as sensações – calor, fome etc. – e as reações que elas deveriam provocar. Na prática, eu frequentemente demoro a perceber – e às vezes não percebo, ou ao menos não identifico – sensações como frio, dor, fome e sede. No momento em que chego a perceber, também noto que a manifestação física daquela sensação (por exemplo, a boca seca que manifesta a sede) estava presente há um bom tempo, mas eu não tinha “ouvido o chamado” dela.
  • Fator 2 - Rigidez cognitiva. Eu sou como uma máquina de executar tarefas planejadas. Não é uma rigidez totalmente inflexível, no meu caso: é uma determinação que inclui superar imprevistos e absorver novidades. Mas tem jeito certo e ordem certa: eu tenho uma pista certa na qual quero andar em cada trecho dos meus trajetos, uma ordem certa de fazer as rotinas matinais etc., e é muito custoso e frustrante para mim ter que executar as coisas de maneiras diferentes das planejadas.
  • Somando o Fator 1 e o Fator 2, temos as situações em que uma sensação demora a ser percebida e, ao ser percebida, demandaria uma ação que difere daquela demandada pela rigidez cognitiva - e aí eu tendo a negar duplamente (ou adiar de forma irrazoável) a reação à sensação em questão – como vestir um casaco, por exemplo.

Vamos ao exemplo prático de hoje: eu acordei com muita sede, algo que não é frequente para mim. A minha rotina matinal já inclui tomar uma garrafa de água (metade antes do exercício e metade depois), mas hoje não bastou – no fim das contas eu tomei 3 garrafas, mas vamos seguindo pela ordem:

  • Depois do exercício tomei a segunda metade da garrafa usual, e fui para o banho. Eu ainda estava com sede, mas não tinha notado.
  • Ao sair do banho, segui com os passos usuais da rotina: ferver água para o café, colocar pó no filtro, etc.
  • Quando abri a geladeira para pegar o leite para ferver, veio a percepção: estou com muita sede. IMEDIATAMENTE veio também a absorção desse fato novo, pelos mecanismos de gerenciamento que a rigidez cognitiva me permite. Tinha uma garrafa de água gelada ali à minha mão, eu estava com a geladeira aberta, mas a fechei sem pegar nada além do leite, pois a decisão automática já estava tomada: “Preciso lembrar de tomar uma água depois de terminar de tomar o café”.

Faz sentido? Racionalmente, não faz – nem mesmo pra mim. Mas esse processo não é racional, é um mecanismo de como o autismo (ou Transtorno do Espectro Autista – que não se chama Transtorno à toa) se manifesta em mim.

Eu PERCEBI que não fazia sentido adiar a água para depois do café, mas ainda assim, apesar da percepção, não modifiquei a decisão.

Segui em frente com a rotina de esquentar o leite, mas logo em seguida aconteceu algo que nem sempre acontece: a racionalidade me alcançou, e eu PERCEBI que não fazia sentido adiar a água para depois do café. Mas ainda assim, apesar da percepção, não modifiquei a decisão: apenas lamentei a incongruência, e segui em frente.

A racionalidade persistiu me avisando, como um alarme, mas a rigidez é forte, e a maneira de absorver aquela novidade já tinha sido tomada - água só depois do café. Foi aí que eu precisei parar e negociar comigo mesmo, na forma de um replanejamento: “Se eu pegar a garrafa de água enquanto o leite esquenta, e antes da água ferver, posso tomar desde já, e não atrasará nada do que tinha sido planejado”.

A negociação entre racionalidade e rigidez cognitiva foi bem-sucedida, e dei fim à sede enquanto olhava o leite aquecer, como olho todos os dias. Após, com clareza sobre como o processo tinha se desenrolado, tomei notas para lembrar de mais tarde escrever este texto, porque percebi uma oportunidade não apenas de comunicar isso a quem convive com autistas, mas também de eu me entender um pouco melhor e talvez vencer mais um degrau na minha própria luta contra a rigidez quando ela me atrapalha.


Nota: Fica para uma oportunidade futura um possível texto complementar fazendo a conexão entre o relato acima e outro comportamento que o TEA me traz: o hiperfoco, que não me deixou dar atenção a mais nada enquanto eu não escrevesse este texto, apesar de eu ter decidido que só o escreveria à tarde.

A pedalada diária começa a ter resultados mensuráveis na saúde

Após anos de sedentarismo intenso, há pouco mais de 2 meses comecei a pedalar todos os dias até que algo me impeça, e hoje foi o 73º dia.

Os resultados já aparecem! Hoje o relógio me avisou que meus batimentos em repouso viviam acima de 80bpm, e agora nunca chegam a 70bpm - e a média caiu consideravelmente. Viva a bike!

Substituindo a carne nas refeições

Não estou tentando me tornar vegano, mas a redução da carne nas minhas refeições é um objetivo (e um fato concreto) há mais de um ano.

E aumentar a presença das fontes vegetais de proteína (tipo ervilha, milho, castanhas) nas minhas marmitinhas diárias (cujos protagonistas são os legumes) tem ajudado bastante nessa busca.

Fico energizado e a fome demora a reaparecer.

O que é ter a propriedade dos seus dados na Internet de 2025?

Concordo muito com isso que o CEO do Obsidian escreveu hoje.

Ter os meus arquivos em formato aberto e no meu próprio disco, e não num servidor da empresa – e rodar o app no meu próprio computador, e não numa nuvem distante e disforme – faz toda a diferença pra mim.

E não apenas quanto ao Obsidian.

É proibido fumar (na frente desse Arduino)

Hoje completa 10 anos essa minha experiência divertida com Arduino: um sensor de chama aciona um ventilador; assim, quando eu acendo um isqueiro, o sensor se encarrega de comandar o vento que o apaga.


O setup da experiência, com o sensor espetado em uma breadboard, o miniventilador encaixado sobre uma caixinha de plástico, e uma placa Arduino Uno visível ao fundo

Sinto que aprendi tudo que queria aprender com o Arduino (até um servidor web singelo eu implementei nele, na época), mas essa experiência simples foi uma das mais divertidas dessa nossa relação, que durou uns 2 ou 3 anos.

A palavra do ano do Oxford em 2024 fala em declínio cognitivo

O dicionário Oxford fez o anúncio da sua palavra do ano, e ela é uma expressão composta: “brain rot”, ou apodrecimento do cérebro - cujo aumento nas consultas ao longo do ano expressa “preocupações sobre o impacto do consumo de quantidades excessivas de conteúdo online de baixa qualidade, esp. nas redes sociais.”

Não é uma expressão nova: o primeiro uso registrado foi em 1854, por Henry David Thoreau, em uma crítica à tendência da sociedade em reduzir o valor das ideias complexas, e de como isso gera um declínio na disponibilidade pra realizar esforços mentais e intelectuais.

Curiosamente, também foi pro pódio a palavra “slop”, que se refere a conteúdo (arte, texto ou outros) inautêntico e de baixa qualidade gerado por IA e distribuído em massa e de maneira intrusiva.

Anotem pra depois me cobrar

Eu sinto que ainda nesta década teremos a confirmação de que o assassino do Kennedy (o Oswald) agiu sozinho, completamente despreparado, era um aloprado e… errou o tiro.

O plot twist que vai aparecer é de que um agente que acompanhava o carro presidencial naquele dia era um incompetente contratado em razão de nepotismo – e ele ouviu o tiro, se atrapalhou ao sacar sua arma, e atirou sem querer no homem que deveria proteger, fazendo assim o que a bala do Oswald não conseguiu.

O nepotismo e a preservação da imagem institucional alimentaram o segredo desde então.