Uma técnica de convencimento comum dessa gente que faz treinamento de vendas disfarçado de neuroqualquercoisa é te fazer uma pergunta sobre algum assunto, esperar tu responder e aí direcionar pro interesse dela perguntando “mas você não acha que _________?”
Isso me irrita muito, não só por ser manipulação – mas também porque a minha resposta é totalmente descartada. A pergunta inicial era só um engodo pra me fazer engajar, e o teor da minha resposta não será aproveitado nesse script.
Invertendo o fluxo!
Responder me custa! Quando alguém vem com essa, tenho adotando meu próprio script e respondendo: “eu acabei de te dizer o que eu acho”.
Não é só pra cortar o script: também é porque eu não tenho o menor interesse em dar continuidade a uma conversa que foi planejada pra me atrair com uma isca e depois conduzir em outra direção.
Na newsletter 500 CARACTERES eu reúno curiosidades e histórias que possam ter escapado à atenção coletiva: links que nem são tão recentes, mas sobreviveram à passagem do tempo, selecionados periodicamente a partir do meu acervo.
Nesta edição:
🌐🔷 Por que os links da web são azuis?
📼📺 A feminista que arquivou décadas de telejornais
🔢⛰️ Planilhas, como faziam os antigos incas
🕊️📨 Os pombos-correio ainda eram atuais no século XX!
🏙️🤏🏻 Arte urbana, mas em forma de maquetes
Qual você curtiu mais? Quero saber!
Planilhas, como faziam os antigos incas
Ilustração do século XVI mostra um inca segurando um quipu, e apresenta um exemplo de decodificação dos nós.
A civilização inca se caracterizava por modernidades, incluindo mais de 30.000km de estradas, arquitetura avançada, comunicação à distância, e um sistema de registro contábil nos chamados quipus.
Os quipus eram coleções de cordões com nós, em que cada coleção era como se fosse uma planilha, e cada cordão era uma célula contendo um número (inteiro ou fração) ou operação. Cerca de 1500 quipus sobreviveram à invasão europeia, e são atentamente estudados.
Por que os links da web são azuis? Nem sempre foi assim, e Elise Blanchard - hoje uma repórter no Afeganistão, mas na época blogueira na Mozilla - foi atrás da origem dessa ideia.
Pesquisadores da universidade de Maryland em 1985(!) comprovaram que azul era a cor mais visível entre as que não pioram a legibilidade, e isso foi publicado e implementado no ano seguinte.
A web surgiu na mesma década, mas só adotou essa cor em 1993, com o Mosaic 0.13.
Por uma pequena abertura coberta por uma janela removível, uma mão acessa o exterior de um tanque Mark V, segurando um pombo-correio para soltá-lo.
Essa foto é poderosa porque ela comunica algo difícil de captar neste século hiperconectado: faz bem pouco tempo que temos acesso instantâneo a (quase) qualquer lugar, e até 30 anos atrás, era comum ter que esperar horas, dias ou semanas para conseguir mandar uma mensagem a algum parente ou parceiro de negócios e receber sua resposta.
A foto mostra uma abertura específica para enviar pombos-correio, num tanque Mark V durante a Batalha de Amiens (1918), na Primeira Guerra Mundial.
Arte urbana, mas em forma de maquetes
Foto da mão de Joshua segurando a sua reprodução da fachada de uma banquinha de jornal que também é lotérica, bomboniére e tabacaria.
Eu sou fã de arte urbana, incluindo as que reproduzem as formas das nossas cidades (aliás, você já segue o @ivanjeronimo? Ele faz desenhos urbanos lindos!) – e isso às vezes inclui coisas diferenciadas.
Tipo um artista australiano que desde 2015 faz esculturas realistas reproduzindo bancas, lojinhas, becos, cabines de fotografia e outros detalhes despercebidos, frequentemente sujos e grafitados, de cidades de todo o mundo. Massa, né?
Mais: joshua_smith_street_artist no Instagram
A feminista que arquivou décadas de telejornais
Marion Stokes foi uma feminista, ativista pelos direitos civis nos EUA, e fez algo que ninguém mais fez: gravou cópias de telejornais ao longo de décadas.
Ela começou nessa missão em 1977, e comprava fitas VHS em dúzias. Quando nos deixou, em 2012, sua coleção tinha 140.000 fitas de 6h, armazenadas em vários imóveis.
Esse acervo vem sendo digitalizado pelo Internet Archive, e contém momentos históricos cuja transmissão não tem nenhum outro registro.
🗞️ A minha newsletter se chama 500 CARACTERES porque os textos originais dela são publicados primeiro no Mastodon, onde cada pauta individual obedece ao limite de 500 caracteres. Nela eu acumulo histórias interessantes, que depois agrupo na forma de um índice como este, para facilitar o acesso.
Uma coisa que precisará ser melhor explorada pelos biógrafos é que eu saí de casa aos 19 anos, mas aos 28 anos fugi da minha própria casa quando as dinâmicas familiares chegaram a ela. E jamais voltei.
Quem deixa coisas pra depois ou planeja algumas coisas sem definir sem data ganha muito se definir um momento pra fazer a revisão dessas intenções e escolher quais estão prontas pra virarem planos.
Hoje é dia de uma tarefa muito importante pra manter em ordem toda a organização da minha vida, e que só acontece 3 vezes por ano (sempre no último sábado de algum mês):
⏯️ rever as listas de atividades que algum dia foram registradas mas intencionalmente ficaram como sem data ou sem priorização.
No Todoist ela consta como a “revisão quadrimestral de backlogs, atividades distantes e projetos de férias”:
Print de diálogo do Todoist mostrando a tarefa, com 5 subtarefas, relacionadas a rever: atividades com data muito no futuro, atividades em repescagem, backlog da firma, projetos de férias e a tag "Encaixar".
As subtarefas dela variam ao longo dos anos, porque às vezes eu mudo a estruturação das minhas listas de coisas que ficam pra depois ou pra datas indefinidas. Atualmente, a estrutura que eu reviso nessa atividade quadrimestral é:
Backlog das atividades profissionais eletivas, que geralmente é onde eu cadastro algo que parece uma boa ideia mas precisa esperar uma oportunidade que ainda não chegou.
Lista de atividades para encaixe, que são atividades de baixa complexidade e baixo valor, da vida pessoal, que também estão esperando uma oportunidade certa - além de olhar nas revisões, eu geralmente olho nessa lista quando tenho um tempo livre indesejado, associado a alguma coisa fora do meu controle, tipo espera longa pra conexão em um voo.
Lista de atividades em repescagem, que são atividades que eu tinha como pendência, mas se tornaram desnecessárias e, ao invés de cancelar (como faço com a maioria), eu resolvi preservar para uma nova análise futura, para eventualmente reformular, repriorizar, ou apagar de vez. Quase todas são apagadas na revisão, mas algumas evoluem.
Projetos de férias: aqui estão as pequenas reformas, filmes que quero ver, comidas que quero provar, lugares aos quais quero ir, e tantas outras ideias que vão se acumulando ao longo dos anos, esperando a oportunidade certa, que é um momento de lazer e agenda livre.
Atividades muito no futuro: é um filtro do Todoist que me mostra atividades que estão cadastradas para mais do que 6 meses à frente. Algumas tem que ficar assim mesmo (por exemplo, a minha próxima renovação da CNH é daqui a 9 anos), mas outras estão assim por erro na hora de cadastrar, e é assim que eu as encontro e ajusto.
É uma atividade longa, mas prazerosa (e eu deixo os projetos de férias pro fim). Antigamente eu fazia tomando uma ou várias cervejas, hoje em dia é com coca-cola mesmo.
Spin-off de Arquivo X, em que um prédio sofre uma interferência sobrenatural e passa a poder abrigar apenas integrantes da família do agente especial Fox Mulder.
A trama se adensa no segundo episódio, quando é revelado que, em um apartamento que até então parecia desocupado, mora Samantha – a misteriosa irmã que Mulder sempre pensou ter sido abduzida na infância.
Foto promocional do apartamento do agente especial Fox Mulder
A primeira temporada encerra em um cliffhanger, quando a mãe de Mulder não consegue explicar por que o Cancerman conseguiu se mudar para o prédio.
Eu não sou fã da onda de reboots e crossovers mas, se eu fosse produzir um, seria um crossover entre “Os Caça-Fantasmas” e “Ghost Do Outro Lado da Vida”.
Cena montada com personagem de Os Caça-Fantasmas em oposição a personagens de Ghost Do Outro Lado Da Vida
A Whoopi Goldberg teria que se unir ao Geleia pra ajudarem o fantasma do Patrick Swayze a escapar dos Ghostbusters.
Nesta edição: tabuleiro de gatos, gráficos de pizza e… caixas de pizza.
Na newsletter 500 CARACTERES eu reúno curiosidades e histórias que possam ter escapado à atenção coletiva: links que nem são tão recentes, mas sobreviveram à passagem do tempo, selecionados periodicamente a partir do meu acervo.
Nesta edição:
🐈🧩 Go-neko: o joguinho fofo de encaixar gatos
🍕📦 A caixa de pizza é uma solução popular - e ruim
📊🍕 O espião que inventou os gráficos de barras e de pizza
🏔️💩 Por que o Everest está começando a feder?
🕸️📚 Relembrando com saudade a história do Google Reader
Qual você curtiu mais? Quero saber! Newsletter
Go-neko: o joguinho fofo de encaixar gatos
foto mostrando um tabuleiro quadrado já quase cheio de peças de gatos em posições variadas, enquanto uma pessoa segura uma peça procurando onde encaixá-la.
Perceba que fofura esse joguinho de tabuleiro, onde cada jogador tem vários gatos em posições diferentes (que ocupam uma, duas, 3 ou 4 casas) e se alternam colocando esses gatinhos no tabuleiro.
Ganha quem conseguir colocar todos os seus gatos para se esticar ou cochilar no tapete quadriculado!
O nome do jogo é Nego, uma brincadeira com a palavra Neko (gato, em japonês) e o nome do milenar jogo Go.
Uma caixa de pizza tradicional, de papelão, genérica, vista de 3 ângulos diferentes
A caixa de papelão para entrega de pizza revolucionou o mercado, e pouco mudou desde quando foi inventada em 1966, pela Domino's – então uma pequena rede regional.
O PROBLEMA é que ela não é boa para isso: se a entrega demora mais do que 15 minutos, o vapor preso cozinha o que era pra ser assado, a massa fica borrachenta e o queijo fica daquele jeito esquisito. Sabia que existem alternativas melhores? Ecológicas? De fibra de cana? E até da Apple?
O espião que inventou os gráficos de barras e de pizza
Reprodução do primeiro gráfico de barras, mostrando importações e exportações da Escócia.
Ele era espião, vigarista e passou um bom tempo na cadeia: estou falando de William Playfair, que nasceu no século 18, ajudou os ingleses a quebrarem códigos franceses e a derrubar a economia do país, deu golpes em investidores, foi preso por dívidas, e surpreendentemente ainda não virou série de TV.
Achou pouco? Em 1776, para descrever a economia da Escócia, ele inventou o gráfico de barras. Não satisfeito, em 1801 inventou o gráfico de pizza.
As pautas sobre 💩 costumam ser populares nesta rede, e essa de hoje é volumosa: as 3 a 12 toneladas de 💩 acumuladas no Monte Everest, que levaram um legislador a declarar que “nossas montanhas estão começando a feder”.
É um problema especialmente difícil de resolver num lugar tão inacessível mas visitado, em expedições que duram semanas, por centenas de pessoas – que agora passam a ser obrigadas a trazer de volta os cerca de 4kg de 💩 que geram.
Relembrando com saudade a história do Google Reader
Ilustração mostra velas acesas e uma pessoa colocando uma flor branca ao redor de um quadro com o ícone do Google Reader e o texto: in loving memory, 2005-2013.
Sdds, Google Reader! Quase todo nerd que já era nerd em 2013 sente falta dele e do tempo em que feeds RSS eram um recurso básico da web.
Desesperado para competir com o Twitter e o Facebook, o Google matou o produto que, ironicamente, poderia ter garantido o lastro e a base de apoio que as tentativas posteriores jamais alcançaram – e comprometeu também o prestígio amplo que o formato RSS chegou a ter, naquela época.
🗞️ A minha newsletter se chama 500 CARACTERES porque os textos originais dela são publicados primeiro no Mastodon, onde cada pauta individual obedece ao limite de 500 caracteres. Nela eu acumulo histórias interessantes, que depois agrupo na forma de um índice como este, para facilitar o acesso.
Um detalhe arquitetônico interessante aqui de Floripa: na próxima vez que passar ali pela esquina onde eram os fundos do Pizza Hut, ponto em que nasce a Av. Gama d'Eça, dê uma olhada para a parte superior da antiga Casa do Barão: no terraço dela ainda tem 2 seteiras, com anteparos onde os habitantes podiam ao mesmo tempo se defender das balas dos invasores e atirar neles.
Foto recente da Casa do Barão, com círculo indicando a seteira do lado direito da fachada.
Ali naquela casa morava o Barão de Batovi (Marechal Manoel de Almeida Gama Lobo D'Eça).
Quando a vingança de Floriano Peixoto pela revolução federalista o alcançou, ele foi preso, levado para Anhatomirim e fuzilado, abraçado ao filho que estava lá apenas para visitá-lo e acabou compartilhando o destino do pai.