Há duas semanas eu percebi que precisava dar um gás na minha agenda ou chegaria ao final do ano com pendências difíceis de gerenciar. Eu dificilmente perco o controle da minha agenda, mas nessa hora já estava precisando acender a luz amarela.
Dediquei um dia a fazer um inventário e identificar prioridades, e desde então estou colocando em ação uma recuperação, com calma, de forma planejada, e tentando colocar tudo nas condições desejadas para o final do ano, ao longo de um mês.
Está indo bem, a lista de pendências parou de aumentar, as pendências mais urgentes foram identificadas e priorizadas, algumas já estão resolvidas, e as demais estão sendo tratadas em ordem e com os interessados bem informados.
Nem sempre dá pra "confiar no processo", mas quando há condições (inclusive motivação) às vezes dá sim pra colocar em ordem as coisas que a gente tem como controlar.
Nesta edição: steampunk soviético, TRS-80 a pilhas, lontras egípcias e mais
Na newsletter 500 CARACTERES eu reúno curiosidades e histórias que possam ter escapado à atenção coletiva: links que nem são tão recentes, mas sobreviveram à passagem do tempo, selecionados periodicamente a partir do meu acervo.
Nesta edição:
⚙️🌏 O computador analógico steampunk soviético
🦦✨ A lontra foi a capivara do Egito antigo
💬🤏🏻 O encolhimento das frases está acelerando
💻🔋 Seu próprio clone do TRS-80 portátil de 1983
🚃🧑🏻💼 Os trabalhadores pendulares cada vez mais distantes
O computador analógico steampunk soviético
Foto de intrincado interior de um computador analógico, colocando em primeiro plano as suas engrenagens, mas permitindo ver também o globo terrestre (mapa-mundi esférico giratório) usado como mostrador principal, e os mostradores circulares usados para indicar latitude, longitude e iluminação.
Um computador analógico steampunk soviético? SIM! Conheça o Globus INK, usado pelos cosmonautas entre 1967 e 2002, com início no projeto Soyuz.
A mira do Globus mostra visualmente a posição do veículo espacial em relação à Terra, com indicadores adicionais mostrando a latitude, a longitude, a contagem de órbitas e a iluminação (dia ou noite, essencial para operações de acoplagem). Ele tinha 2 modos: posição atual e projeção de pouso.
Escultura em pedra. Representação egípcia de uma lontra, em pé sobre as patas traseiras, com as patas dianteiras estendidas, estimada entre os anos 664 AC e 30 AC.
Lontras? SIM!
Muita coisa escrita no começo da pandemia se perdeu pelo excesso de temas que disputavam nossa atenção, mas isso não é motivo para perder esse artigo de 2022 revisitando uma série de representações antigas, clássicas e contemporâneas das lontras nas artes.
A lontra é tipo uma versão internacional da capivara, queridinha das redes sociais, e não é de hoje: as imagens do artigo começam no Antigo Egito.
Um texto intencionalmente ilegível, em bela caligrafia com letra cursiva
Já notou que as frases vem encolhendo? Isso começou antes do rádio e TV. No século XIX a frase média chegava a 50 palavras. No século XX, 12 a 14 virou comum, com máximo de 20.
A imprensa usava 35 a 40 palavras, hoje usa 20 ou menos. Os relatórios para acionistas em 1970 usavam 17 palavras, hoje tem 13 em média.
A democratização do acesso à comunicação influi, mas frases curtas são mais legíveis (com limites!), e a linguagem evolui em direção a elas.
Foto de um TRS-80 modelo 100, com seu teclado típico dos anos 80, e tela LCD de apenas 8 linhas em modo texto.
Sou um entre tantos nerds fascinados pelo TRS-80 modelo 100, um portátil de 1983(!) que funcionava com 4 pilhas AA – e minha jornada só estará completa quando eu criar meu sucessor dele, como tantos outros (inclusive aqui na rede) já fizeram. E não, eu não tenho nenhum caso de uso que justifique esse desejo, é só fascínio mesmo.
Hoje as peças necessárias não são muito caros, e o gabinete personalizado a gente encomenda em impressora 3D!
Os trabalhadores pendulares cada vez mais distantes
O fenômeno do trabalhador que mora a milhares de km da firma mas comparece para o presencial eventual começou a surgir antes da pandemia, mas ficou um pouco mais comum – eu conheço pessoalmente mais de uma! – a partir de 2020.
Ao contrário do trabalhador pendular ~normal, que mora numa cidade-dormitório e trabalha num centro urbano, esse novo fenômeno busca qualidade de vida, embora tenha vários custos. Me serviria e penso nisso às vezes!
🗞️ A minha newsletter se chama 500 CARACTERES porque os textos originais dela são publicados primeiro no Mastodon, onde cada pauta individual obedece ao limite de 500 caracteres. Nela eu acumulo histórias interessantes, que depois agrupo na forma de um índice como este, para facilitar o acesso.
Pensando em lançar um Dicionário Ilustrado dos Sentimentos, mostrando a imagem de como sentimos cada um deles.
O segundo volume vai ser um Dicionário Ilustrado dos Fonemas, mostrando como é ouvir cada um deles
O Cubo Impossível, parte de uma das célebres ilustrações de M. C. Escher.
Aí em seguida farei uma coreografia descrevendo o brutalismo na arquitetura do século XX, e uma cerâmica representando a diferença entre o salgado, o azedo, o doce, o amargo e o umami.
Não satisfeito, entoarei na flauta-doce um duplo twist carpado, e publicarei uma versão em quadrinhos do número de Avogadro.
Na primeira vez que eu montei uma máquina de fliperama, em 2014, eu usei um monitor posicionado na vertical, e aí sobravam essas faixas escuras enormes, acima e abaixo da tela dos jogos feitos pra fliperamas horizontais.
Montagem de 3 fotos da tela do fliperama (ainda desconectada do gabinete), sendo uma delas mostrando o jogo Nemesis com setas indicando as faixas escuras no monitor, acima e abaixo da tela do jogo, a outra mostrando o mesmo jogo, mas com o espaço das faixas ocupado por artes da máquina original, e a terceira mostrando o jogo Castlevania com as artes da máquina original.
Aí, usando umas opções do emulador que eu não conhecia, editando uns arquivos XML e fazendo uma busca arqueológica no Google Imagens, eu configurei para preencher aquele espaço vazio com a arte que acompanhava ou anunciava as máquinas originais
Estruturando a navegação em 3 painéis, mostrando as pastas, conteúdo da pasta, e nota individual.
O Obsidian tem uma organização bem própria, que faz sentido pra mim, mas às vezes contraria as expectativas e dificulta a transição de quem chega a ele vindo de outras ferramentas como o Evernote, Notion, Apple Notas.
Se é o seu caso, sugiro experimentar de novo, mas agora com o plugin Notebook Navigator, sucesso recente desenvolvido pela comunidade.
Eu uso o Obsidian com poucos plugins, mas esse foi uma surpresa agradável, pois ele transforma a maneira de interagir com os índices, as tags e as notas (além de tornar a interface mais familiar a quem está acostumado com outros aplicativos do ramo).
Print da versão desktop do aplicativo Obsidian, mostrando a organização em 3 painéis.
O print acima mostra como o Obsidian no meu computador ficou após a instalação do plugin. Note que ele estrutura a tela em 3 painéis: um para a estrutura de pastas e de tags, outro para a lista de notas da pasta ou tag selecionada, e o terceiro para a nota que estiver aberta.
Desde o dia que eu instalei, o plugin teve duas atualizações, ativando uma série de novos recursos e opções de configuração. Gostei da postura do desenvolvedor, que interage nos fóruns de usuários do Obsidian.
Eu acho que o Arduino Uno fez muito pela disseminação da cultura maker, e merece reconhecimento por isso. Mas estou falando do produto, e não do time.
Uma placa Arduino Uno R3 na caixinha em que é comercializada
Eu era fã dos caras por trás desse produto, até conhecer melhor – e em 2014-2016 eles mostraram a cara numa série de lances de fraude acadêmica, brigas internas, uso de marcas registradas pra limitar uns aos outros, etc.
Em 2016 eles se acertaram entre si, mas o histórico formado me leva a ter zero confiança na possibilidade de a compra pela Qualcomm ser boa notícia.
Quem sabe eles me provam estar errado? Seria uma boa notícia inesperada.
Nesta edição: levitação contra a vontade, nuvens intencionais, preservação de acervos, e mais
Na newsletter 500 CARACTERES eu reúno curiosidades e histórias que possam ter escapado à atenção coletiva: links que nem são tão recentes, mas sobreviveram à passagem do tempo, selecionados periodicamente a partir do meu acervo.
Nesta edição:
✝️🛫️ A santa que levitava, mas não curtia
🚢💥️ O naufrágio emborcado de Saddam Hussein
📺🚌 Obsessão por telas, já na década de 1960
☁️🖌️ Arte visual em forma de nuvens
📽️🔎 Continua difícil preservar o histórico da TV e do cinema
A santa que levitava, mas não curtia
“VOU LEVITAR SIM, MAS SOB PROTESTO!”
Teresa de Ávila é uma integrante do panteão de mulheres canonizadas pela igreja católica, mas possivelmente é uma das mais relutantes dessa lista. Espanhola, nasceu em 1515 e, no Brasil, é a padroeira dos professores.
Gravura de Adriaen Collaert (1613, Antuérpia) representando a levitação de Teresa.
Teresa entrava em êxtases místicos, e há uma série de testemunhos sobre ela levitar, nessas horas. Mas ela não curtia: protestava em voz alta, se agarrava na mobília, fazia o possível para não sair voando.
Iates gigantes são um símbolo da plutocracia, e o ditador Saddam Hussein tinha o seu, chamado al-Mansur, de 396 pés (121m). E mais: ele não navegava no iate construído na década de 1980 – apenas o exibia.
Foto aérea mostrando o iate naufragado, tombado lateralmente, próximo à margem e a uma ponte.
A partir de 2003, o al-Mansur se tornou símbolo de outra coisa: alvejado na invasão do Iraque pelas forças lideradas pelos EUA, afundou e foi saqueado pela população.
O naufrágio emborcado ainda pode ser visto, em Basra.
A obsessão por telas não é um fenômeno tão recente assim: a foto mostra uma fileira especial de poltronas em uma sala de embarque de estação rodoviária em Los Angeles, em 1969, e é parte do acervo da Universidade da California.
Foto em preto e branco de pessoas assistindo a aparelhos de televisão individuais que funcionam com moedas, no terminal Greyhound Bus em Los Angeles, Califórnia, 1969
Nessa época ainda não dava de levar uma tela no bolso, mas note como as pessoas lotavam essa fileira em que dava para assistir meia hora de programação da TV aberta, bastando colocar uma moedinha no aparelho.
Uma estética insólita, na forma de nuvens de verdade, em ambientes especialmente escolhidos: essa é a forma de expressão do artista visual holandês Berndnaut Smilde.
Foto artística de uma nuvem flutuando próxima ao solo, em um grande galpão abandonado de fábrica antiga.
Não é photoshop, ele realmente cria as nuvens, controlando cuidadosamente os parâmetros de umidade da atmosfera do ambiente. Elas são pequenas e efêmeras, durando menos de meio minuto – tempo suficiente para produzir as imagens que o artista registra.
🗞️ A minha newsletter se chama 500 CARACTERES porque os textos originais dela são publicados primeiro no Mastodon, onde cada pauta individual obedece ao limite de 500 caracteres. Nela eu acumulo histórias interessantes, que depois agrupo na forma de um índice como este, para facilitar o acesso.
Onze anos depois da última reforma no tema visual do Trilux, hoje eu atualizei toda a tipografia dele, e estou só começando.
Eu fui conferir nos arquivos, e a última atualização grande no tema visual do meu blog foi em 2014. Já estava na hora de atualizar de novo, né?
Eu dividi esse projeto em etapas, e hoje venci a da tipografia. Tem alguns detalhes nela a ajustar (alguns entrelinhamentos, alguns espaçamentos verticais etc.) mas eu já fiquei satisfeito o suficiente pra colocar no ar em produção.
Até 11 de outubro de 2025, o layout era assim, com fontes serifadas no corpo de texto.
Mantive, mais uma vez, o requisito de não buscar elementos alheios - nada de fontes do Google, nada de framework JS, e assim por diante. Assim o download da página fica mais rápido, e com menos oportunidades pra alguém rastrear os leitores a partir do carregamento de recursos externos.
Isso significa que eu procurei me adaptar às fontes disponíveis nas principais plataformas, o que pode fazer com que o site apareça com fontes diferentes dependendo de onde você o carregar.
Isso me incomoda? Não, inclusive porque o site também aparece com larguras diferentes dependendo do tamanho da tela (ou largura de impressão) de onde você o carregar. E espero que você tenha gostado das fontes que eu escolhi, entre as default da sua plataforma!
O projeto terá continuidade nos próximos finais de semana: vem aí uma revisão nos modelos de documento, pros posts passarem a ser integralmente semânticos, sem tanto DIV.
Ao final, quero ter um tema genérico e configurável, feito por mim, e que eu possa usar para mais coisas, não só para o blog.
O futuro distópico da tecnologia é incerto, mas forças como a IA e a enshittificação certamente vão mudar cada vez mais a disponibilidade de conteúdos.
Tem uma coisa que eu comecei a praticar há uns 2 anos e recomendo a todo mundo que puder: arquivar os conteúdos hoje disponíveis na web e que eu gostaria de continuar a ter acesso (integral, na versão original e sob meu controle) no futuro.
Estou me referindo a textos, sites, imagens, vídeos, sons, entretenimento, referências, ideias, arte, cultura e mais: toda informação on-line à qual você dá valor merece ser arquivada antes de sumir ou ser permanentemente modificada de maneiras cada vez mais imprevisíveis.
A hora de comprar e lotar HDs, se você pode, é agora.
Este blog está de equipamento novo: agora ele roda em um servidor virtual da Dreamhost, a mesma empresa que o hospeda desde o princípio, em dezembro de 2005.
A novidade é justamente o fato de agora estar em um servidor virtual (VPS) só meu – nas duas décadas anteriores ele rodou em um servidor compartilhado, a forma mais barata de hospedagem comercial de servidores web, em que as páginas de diversos sites (de proprietários diferentes) compartilham os mesmos recursos1.
Só que na semana passada o provedor me avisou que eles cansaram de fingir não perceber que eu excedia em muito os termos do nosso contrato, e me mandaram tomar jeito.
O blog está naquele ali, terceira porta Ethernet à esquerda.
Aí, pra resumir, gastei 2 dias fazendo um bom backup de tudo que eu tinha rodando no servidor compartilhado (vários arquivos com data de 2005 e 2006, incluindo o diretório deste blog), e movendo tudo pro VPS, com ganho de desempenho e de estabilidade.
Eu não precisava desse desempenho e dessa estabilidade adicionais, afinal não tenho nenhum projeto crítico rodando nesse provedor (exceto, talvez, o Termais), mas eles estão certos: por conta de nosso contrato já ter décadas, e de alguns dos meus sites serem volumosos e populares, eu excedi por anos a fio os limites previstos no contrato.
Aí mudei, deu tudo certo e estamos de casa nova.
Não que no VPS deixe de haver compartilhamento de recursos, mas é de outra forma, e não é a mesma lista de recursos. ↩