Inteligência Artificial e as stock photos genéricas para ilustração e publicidade

A geração de imagens pela IA do serviço Midjourney continua a impressionar: nenhuma dessas 4 fotos, e nenhuma dessas 10 pessoas, existe de verdade.

A expressividade, fotogenia e atmosfera já estão em um nível bastante avançado, como se pode ver.

Outros aspectos, como a representatividade, diversidade, e detalhes anatômicos (incluindo quantidade de dedos e de dentes) ainda precisam avançar bastante.

Quem produziu e observou esses resultados foi o Miles, nesta thread em que inclui mais algumas ~fotos como essas acima, e seus comentários.

E eu acrescento: entre as várias consequências da IA (incluindo a dificuldade de distinguir imagens de cenários reais), toda a cadeia de produção e comercialização de stock fotos genéricas, despersonalizadas, para publicidade e jornalismo vai precisar ser reinventada.

Porta da rua é serventia da casa do pássaro

Nesse lance do Twitter bloquear os maiores apps clientes, uma coisa a notar é que esses grandes apps – como o Twiterrific e o Tweetbot – são pagantes (2ª maior fonte de receita da empresa, perdendo só pros anúncios).

E são tratados assim, já há mais de 24h sem acesso, sem resposta, só KTHXBYE.

Esse descaso (que se soma a uma arbitrariedade que a empresa poderia não ter, mas também é direito dela) vale como exemplo pra todo mundo que poderia vir a considerar pagar algo pro Elno, somando a todo um histórico recente de outros exemplos.

Boa parte dos usuários desses apps bloqueados é pagante também - paga ao app, que paga ao Elno. E eles oferecem vários recursos que o Twitter não oferece em seus próprios apps (por exemplo, filtragem e consulta por regex).


Ficar sem o app inviabiliza o meu workflow, que usa recursos pelos quais eu topava pagar US$ 6 por ano ao app que melhor me atende (atendia?). Com 2 telas de Python (graças à excelente documentação da Tweepy), ontem à noite eu já consegui reimplementar os mesmos filtros e dar sobrevida meu workflow, mas tem muito usuário sem a mesma sorte.

Parte do conteúdo que eu leio ainda está no Twitter, mas felizmente está migrando, e meu workflow já está se adequando pra encontrá-lo crescentemente no Mastodon e no RSS. Imagino que seja algo que mais gente esteja passando também (dependendo de cada perfil de uso, claro).

Meu remendo com Python vai me dar alguma sobrevida no site do Elno mesmo se os apps bons não voltarem, mas é mais um impulso (para o meu próprio conteúdo, inclusive – que individualmente não lhe fará falta) pra porta da rua, que o Twitter vive me indicando que é serventia da casa.

O que o fim da União Soviética tem com o precursor dos palmtops

O fim da União Soviética complicou o Almanaque Abril, a Barsa, as transmissões de futebol… Mas você sabia que o precursor dos palmtops também sofreu?

O Psion tinha uma base de dados geográfica invejável, que ficou desatualizada sobre destinos que acabavam de ficar relevantes!

Colecionando as notícias da “onda IA”

2023 é o ano da Inteligência Artificial na pauta do botequim, e vou começar a registrar aqui no meu blog esses avanços (com e sem aspas) e reações (fundamentadas ou histéricas) às aplicações de IA, porque parece que vai ser divertido.

Vai ficar tudo na tag #IA do blog, pra facilitar a referência.

Apple começa a vender audiolivros narrados por inteligência artificial

Narração automatizada a partir do texto de livros não é novidade, mas uma grande editora levar ao mercado audiolivros produzidos por esse método pode abrir novos cenários.

A Apple lançou discretamente audiolivros narrados por IA:

A Apple acaba de lançar um novo recurso para seu aplicativo Livros que permitirá que você ouça títulos escritos, como audiolivros narrados por inteligência artificial. 

O recurso, adiado de novembro do ano passado, permite que os usuários escolham livros que apresentam narração de IA e apresenta uma série de novos livros que são "narrados por voz digital com base em um narrador humano".

Como observado pelo The Guardian, a nova iniciativa "marca uma tentativa de disrupção no lucrativo e crescente mercado de audiolivros".

Eu – hoje já feliz da vida, habituado a pedir pra voz mecânica da Alexa (da Amazon) narrar ebooks para mim com sua voz mecânica – comemoro, porque vejo grande oportunidade para a inclusão das pessoas que não podem ou têm dificuldades para ler.

Inclusive no sentido internacional: o período entre a obra ser traduzida e ficar disponível como áudio pode encurtar muito.

Quem sai perdendo: o tamanho do mercado que continuará disponível aos atores e demais artistas e profissionais envolvidos na locução e demais artes e técnicas da elaboração de versões sonoras dos livros.

Secretaria da Educação de NY bane acesso ao ChatGPT nas escolas nova-iorquinas

Resposta histérica de educadores é similar à que já vimos acontecer contra a Wikipedia, o Google e as calculadoras.

Em dezembro eu perguntei o que veríamos antes nas notícias:

  • um estudante pego entregando trabalho acadêmico gerado por IA (ChatGPT e afins), ou
  • uma instituição acadêmica renomada revisando seus códigos de ética e integridade pra deixar explícito que isso especificamente não conta como autoria?

Ainda não vimos nenhum dos dois, mas a Secretaria da Educação da cidade de Nova York queimou etapas e já foi além da opção 2: baniu o acesso ao ChatGPT nos computadores da rede pública de ensino, como nos conta o Chalkbeat:

Estudantes e professores da cidade de Nova York não podem mais acessar o ChatGPT - o novo chatbot alimentado por inteligência artificial que gera textos incrivelmente convincentes e realistas - em dispositivos ou redes do departamento de educação, confirmaram funcionários da agência na terça-feira.

O departamento de educação bloqueou o acesso ao programa, citando "impactos negativos na aprendizagem dos alunos e preocupações com a segurança e precisão do conteúdo", disse um porta-voz. A mudança do maior sistema escolar do país pode ter efeitos em cascata, à medida que distritos e escolas em todo o país lidam com a forma de responder à chegada da nova tecnologia dinâmica.

A capacidade do chatbot de produzir redações perfeitas para enunciados que abrangem uma ampla gama de assuntos provocou temores entre algumas escolas e educadores de que suas tarefas de redação poderiam em breve se tornar obsoletas - e que o programa poderia incentivar trapaças e plágio. (...)

Mas será que o que vai ficar obsoleto são só as tarefas de redação? Parece algo mais profundo.

Afinal – e aqui a opinião é minha e não do artigo – se um chatbot de 2023 já consegue gerar instantaneamente redações que passam como perfeitas na avaliação pelos professores, cabe questionar a razão de continuar avaliando hoje os alunos pela capacidade de gerá-las também, já que as ferramentas estarão no mercado e na academia quando esses alunos se formarem.

Não estou aqui afirmando que a nova ferramenta é virtuosa (o ChatGPT em si tem vícios importantes a serem cuidadosamente evitados).

Mas a disponibilidade do ChatGPT é um fato concreto, e penso que a solução educacional que melhor atende o aluno, o mercado e a sociedade será melhor construída a partir do questionamento acima, e não de uma tentativa fadada ao fracasso de tentar bloquear o uso de uma ferramenta tecnológica já amplamente disponível.

Os comentários de educadores mencionados na matéria acima são bons, lembrando de quando as escolas queriam banir o Google e a Wikipedia, por razões parecidas e também infundadas.

A rejeição à tecnologia no ensino não é novidade. No meu tempo de estudante, ainda não havia a WWW, mas ainda se rejeitava as calculadoras, embora estivessem começando a serem aceitas, e não precisassem mais ficar escondidas.

A imagem acima, com professores em uma manifestação contra as calculadoras, parece fake ou um exagero, mas esse protesto de professores contra a permissão de uso de calculadoras aconteceu mesmo, e era voltado a repelir uma mudança de norma que tornaria permitido o uso de calculadoras no ensino fundamental.

Em décadas mais recentes, vimos as mesmas preocupações (e as mesmas reações) contra pesquisas no Google, ou contra a Wikipedia, ou até contra o rádio.

Tudo passa, tudo passará – e não quer dizer que isso gera um ensino de melhor qualidade: a questão é que negar a existência dessas tecnologias também não gera.

'Advogado robô' com Inteligência Artificial promete conduzir a primeira defesa de um réu no tribunal [atualizado]

Acho que vou começar a manter um registro desses “avanços” da IA nos variados campos profissionais – afinal, o que poderia dar errado, não é mesmo?

Atualização em 28.1.2023: os planos foram cancelados, após múltiplas ameaças de processo e de sanções por parte de entidades da classe jurídica. O texto abaixo, publicado originalmente em 9/1/2023, não foi modificado, para fins de histórico.


Segue a cobertura do New York Post sobre o caso da vez, com destaques meus:

'Advogado robô' com IA ajudará a combater a multa por excesso de velocidade ao levar seu primeiro caso no tribunal

O "primeiro advogado robô do mundo" levará um caso ao tribunal no próximo mês - com uma inteligência artificial (IA) atuando como assistência jurídica ajudando um réu a contestar uma multa de trânsito.

A IA, anunciada como "a primeira advogada robô do mundo" pela startup que a criou, DoNotPay, vai rodar em um smartphone e ouvirá os argumentos do tribunal em tempo real antes de dizer ao réu o que dizer por meio de fones de ouvido.

A audiência sem precedentes está programada para ocorrer em algum momento do próximo mês, mas os fabricantes do advogado robô não estão divulgando a localização do tribunal ou o nome do réu.

A publicação de ciência e tecnologia New Scientist informou que a multa que é objeto desse caso pioneiro foi emitida por excesso de velocidade, e o réu só dirá no tribunal o que a IA o instruir a dizer.

Caso percam o caso, a DoNoPay concordou em cobrir quaisquer multas, de acordo com o fundador e CEO da empresa, Joshua Browder.   

Browder, um cientista da computação formado na Universidade de Stanford, lançou o DoNotPay em 2015 como um chatbot que fornece consultoria jurídica aos consumidores que lidam com taxas ou multas atrasadas, mas a empresa redirecionou seu negócio para a IA em 2020.

Browder disse que levou muito tempo para treinar o assistente de IA da DoNotPay sobre jurisprudência que abrange uma ampla gama de tópicos - e para garantir que o aplicativo se atenha à verdade.  

"Estamos tentando minimizar nossa responsabilidade legal", disse Browder ao veículo. "E não é bom se realmente distorcer os fatos e for muito manipulador."

O software do aplicativo AI foi ajustado para que ele não reaja automaticamente a tudo o que ouve no tribunal. Em vez disso, ouvirá os argumentos e os analisará antes de instruir o réu sobre como responder.

Browder explicou que seu objetivo final é fazer com que seu aplicativo substitua alguns advogados por completo, a fim de economizar dinheiro dos réus.

"É tudo uma questão de linguagem, e é isso que os advogados cobram centenas ou milhares de dólares por hora para fazer", disse ele.

"Ainda haverá muitos bons advogados por aí que podem estar discutindo no Tribunal Europeu de Direitos Humanos, mas muitos advogados estão apenas cobrando muito dinheiro para copiar e colar documentos e acho que eles definitivamente serão substituídos, e eles devem ser substituídos."

Além de atuar como assistente jurídico em um tribunal, a DoNoPay promete aos usuários "lutar contra corporações, vencer a burocracia e processar qualquer um com o apertar de um botão".

Aventuras em Serra Pelada: marco na produção nacional de games

Em janeiro de 1984 saiu na Micro Sistemas o Aventuras em Serra Pelada, marco no desenvolvimento nacional de games, pelas mãos do decano Renato Degiovani, e tarefa hercúlea para o leitor/programador, como você pode ver no destaque.

E não era só o risco de perder tudo por rodar um RUN ou CLEAR fora de hora: colocar o Serra Pelada para rodar no TK-85 de 16KB de RAM envolvia digitar 3 páginas de listagens que vieram naquela edição.

Só isso?

Pior que não! Antes, era preciso ter digitado as 5 páginas de listagem que saíram na edição de agosto 🫠

Em 1989, a Byte achou que as impressoras a laser atrapalhavam os editores de texto

Exemplo a ser emoldurado: autor prefere se prender às restrições do DOS, que ele chama de simplicidade e tradição, do que aproveitar as vantagens da evolução tecnológica revolucionária.

Em janeiro de 1989, um artigo da Byte achava que as impressoras a laser complicavam os processadores de texto, porque as fontes proporcionais (desnecessárias para muitos, diz o autor) acabavam com o familiar modelo das 80 colunas fixas, na tela do DOS e na impressora matricial.

No mesmo artigo, o autor classifica como "desconcertante" a novidade disponível no recém-lançado WordStar 5.0: menus visuais, e não apenas por combinações de teclas!

Ele comemora a presença de uma opção para desabilitá-los totalmente, ao passo em que lamenta que o programa só suporta duas janelas simultâneas: ele preferiria que fossem três.

Se ele soubesse o que estava pra chegar...

Renfield e o Demeter prometem um 2023 animado para os fãs de Dracula

O cinema em 2023 promete trazer para o primeiro plano 2 aspectos secundários mas muito interessantes do livro “Dracula”: a tétrica viagem do navio que o trouxe para Londres, e o seu desnorteado servo Renfield.

O servo devoto R. M. Renfield é um dos personagens mais curiosos de todo o livro do Dracula: internado em um hospital psiquiátrico, tudo o que ele queria do mestre eram mais insetos para complementar sua dieta, e a promessa de imortalidade.

Mesmo parecendo desequilibrado, Renfield (no livro) exerce seu papel, quase literalmente dando o sangue pelo ídolo para ajudar seu plano infalível que tem como alvo a bela Mina Harker.

No novo filme, a coisa acaba tomando um novo rumo, no contexto das relações trabalhistas e da psicologia deste novo século...

Um filme centrado nele e trazido para os dias atuais até teria como ser ruim, mas não tem como ser desinteressante - ainda mais tendo o Nicolas Cage no papel do Conde Dracula, objeto da devoção do personagem-título.


Saindo do terror-engraçado para o terror-terror-mesmo, temos também planejado para 2023 o lançamento de The Last Voyage of the Demeter, que conta a história do navio russo que partiu do Leste Europeu levando (sem saber) o vampirão a bordo.

Um a um os 8 tripulantes foram desaparecendo, e o navio aportou em Londres sem ninguém vivo, e com o corpo do capitão amarrado junto ao leme, com um crucifixo e um olhar aterrorizado.

É um aspecto secundário (mas interessantíssimo) do livro original do Drácula, no qual é narrado na forma de uma transcrição do diário de bordo do navio, recuperado após ele aportar misteriosamente em Londres, e deixando também a informação de que um grande lobo foi visto no cais logo após sua chegada.

Assistiremos!