Quando eu era um jovem programador em Joinville, aprendi na prática muitos conceitos que mais tarde conheci formalmente estudando Administração, incluindo o risco de olhar mais para o indicador do que para a realidade sendo medida.
Um dos meus chefes na época tinha um cunhado garotão, chamado Gus, que vivia em função de um Fusca que era o seu xodó. Certo dia o Gus trocou os pneus do Fusca por modelos esportivos, de diâmetro menor, e veio espantado contar como o carro agora ~corria~ muito mais, e que em trechos urbanos em que antes ele passava a 70 km/h agora ele passava a mais de 80 km/h, mesmo com trânsito.
O chefe olhou de lado para o Gus, chamou o estagiário (eu!), e disse apenas: explica pra ele.
Eu, que não era ligado em carros mas tinha estado acordado na aula sobre a relação entre raio e circunferência, expliquei pro Gus: o velocímetro não mede a distância real, mede o número de voltas da roda. Com pneus menores, cada volta corresponde a uma distância menor, mas o velocímetro não sabe. Assim, para percorrer uma mesma distância em um mesmo tempo (que o trânsito e o motor permitem), a roda dará mais voltas, e o velocímetro indicará uma velocidade (incorretamente) maior. Mudar as rodas interfere na velocidade sim, mas o número apontado pela agulha do velocímetro ajustado para a roda original não serve para indicar diretamente essa mudança.
O chefe disse: "Entendeu, Gus?", e o Gus respondeu: então me vê aí um trocado pra eu ir lá ajustar esse velocímetro.
E o estagiário aprendeu pelo menos 2 lições de Administração.