“YES, AND...”: um truque pra sobreviver aos encontros de fim de ano

Como o frescobol e um truque nascido do teatro de improvisação podem se unir para ajudar a manter vivas as conversas inescapáveis de final de ano, e também para as suas reuniões de 2023.

Uma boa conversa é similar a uma partida de frescobol, em que lançamos a nossa contribuição de tal forma que o outro participante possa lançar também a dele, na expectativa de continuidade, com contribuição de ambas as partes, que não são adversárias entre si.

“Numa partida de frescobol o objetivo é manter a bola sempre no ar. Os jogadores não são rivais e seu número costuma variar de 2 a 3 pessoas, mas não existe um limite.”

É diferente de um debate de oponentes, que é como uma partida de tênis em que cada lado deseja lançar seu argumento para a quadra oposta, na expectativa de que o oponente não consiga lançar outro de volta.

Nem toda conversa pode ser boa: às vezes, o caminho é mesmo movimentar-se para encerrá-la; mas quando manter a conversa andando é o objetivo, há alguns truques que podemos aplicar até mesmo quando nos falta o traquejo social, o entendimento completo ou até o interesse genuíno no tema sendo debatido.

SIM, eu estou falando daquelas conversas típicas das festas de final de ano, que reúnem pessoas que não se veem há tempos, às vezes com pouca coisa em comum, e até com vários pontos conhecidos de divergência, mas que são colocados em um mesmo local por alguma circunstância externa – a confraternização da firma, a janta de Natal da vó, etc. – e terão que passar algumas horas em convívio.

Em um ano como foi este nosso 2022, é possível que a catarse de um bate-boca coletivo seja inevitável ou até mesmo desejável, mas nossa pauta hoje é outra: como manter a conversa rolando, mesmo quando o assunto em si não é algo que nos interesse – pois é assim que chegamos até o ponto em que conseguiremos colocar em pauta algum tópico que seja mais do nosso interesse.

Curiosamente, a mesma dica serve também para brainstormings em geral, mas aí o alvo não é chegar a um ponto de menor desconforto, e sim ir agregando mais ideias até que surja um momento de criação coletiva a partir da soma das ideias trazidas na conversação com poucas amarras.

O truque do “YES, AND...”

Traduzindo literalmente a expressão, começar as suas respostas com “Sim, e...”, é uma regra da comédia de improvisação ou improv, que sugere que, para manter a cena rodando, um participante deve aceitar o que outro improvisador declarou (“sim”) e, em seguida, expandir a sua linha de pensamento (“e...”).

Pode discordar à vontade, a ideia é apenas evitar o fim prematuro da cena.

Não precisa ser dito literalmente, e também não é proibido discordar – pelo contrário, discordância enriquece a cena, e o que estamos tentando evitar é que ela acabe prematuramente e seja substituída por um silêncio desconfortável.

As ideias centrais da técnica são:

  1. evitar começar com o “não”
  2. não ignorar o que o outro disse
  3. se esforçar por acrescentar, e não por refutar

Ou seja: lembrar-se que não estamos em um debate no estilo partida de tênis, onde queremos encerrar o quanto antes com uma cortada ou colocando a bola onde o oponente não está, e sim numa conversa no estilo frescobol, em que o objetivo é manter a bola no ar.

A mesma dica também é usado por facilitadores de reuniões, como um princípio voltado a melhorar os resultados criativos dos processos de brainstorming, promovendo uma comunicação eficaz e incentivando o compartilhamento de ideias.

E quando a outra pessoa está jogando uma partida de tênis?

Se você perceber que está levantando a bola para o outro cortar contra você, aí a técnica simplesmente não funciona, e não vale a pena insistir nela, nem mencioná-la.

Também não se aplica muito quando alguém resolve puxar a cartada de algum assunto polêmico com o objetivo de pregar seu ponto de vista, em um lugar em que haja discordância.

Nesses casos, provavelmente o ideal seria procurar outras pessoas e ter uma conversa melhor mas, se escolher prosseguir – ou se não houver outra opção –, talvez valha a pena trocar a metáfora do frescobol por um esporte mais simples, como peteca (especialmente na modalidade praticada com luvas de boxe).