O espírito punk combina muito bem com a cultura hacker

Hoje a pauta é sobre o movimento punk e a cultura hacker - não é sobre músicas, nem programar computadores (que também gostamos).

Uma vez eu fui ali tomar um café com a vizinha Melissa e a gente conversou sobre o conceito do que é ser punk - não o estilo, nem a música (também legais!), mas os fundamentos: o faça-você-mesmo, o agir localmente, o apoio mútuo, a rejeição a discriminações.

Ou seja: as coisas que permanecem mesmo quando a pessoa não calça coturnos e nem tem o cabelo verde.


Foto de uma mulher jovem, sorrindo para a câmera, de boné preto virado para trás, com uma camiseta preta onde se lê “What's more punk than the publica library?”, e com tatuagens perto do seu pulso direito.
“O que é mais punk que uma biblioteca pública?”, pergunta a camiseta de Lesley Garrett – que, como voluntária, coordena uma biblioteca móvel em sua cidade.

Durante aquele café memorável, eu e a Melissa notamos que algumas atividades super punks, tipo ser bibliotecário, cultivar uma horta comunitária e reformar as suas roupas, são coisas que também se conectam (inclusive por via dos princípios e fundamentos) com a cultura hacker – o que ajuda a explicar a razão de ter tanta conexão entre esses dois grupos nas comunidades virtuais.

Vindo de uma vida inteira de imersão tecnológica, a cultura hacker – caracterizada pelo compartilhamento e por valorizar ir além das restrições, mas não necessariamente daquelas formas que você vê nos filmes – está presente em muito do que eu vejo e faço, a exemplo de coisas como o baralho de dicas de Linguagem Simples que eu criei desconsiderando minhas limitações artísticas, simplesmente porque queria que ele existisse, para poder usar.

Esse faça-você-mesmo comunitário, sustentável e independente é punk e é hacker, é muito prático mas também é filosófico. E é um bom combo, quando o alinhamento existe.

As décadas foram passando e, pra mim, esse enfoque hacker que eu pratico foi se aproximando cada vez mais do espírito punk, também, no sentido de permanecer tecnológico mas cada vez mais preferir projetos que promovam o apoio mútuo (ou o apoio a quem recebe pouco apoio), as soluções independentes e a rejeição a discriminações.

Esse faça-você-mesmo comunitário, sustentável e independente é punk e é hacker – e é também filosófico, em algum nível. No futuro talvez eu aprofunde essas ideias, porque a aplicabilidade prática delas cresce em momentos de incerteza global e de proximidade de crises – já que promove a resiliência e as soluções independentes.

Por enquanto, vou colocando em prática sem aprofundar, mesmo – e compartilhando, seja pelo exemplo ou por palavras, com quem queira ouvir.


Nota: para uma visão sobre outra faceta do punk (o estilo punk, que já há décadas virou também uma vertente do pop), postei no ano passado uma brevíssima reflexão histórica em: “Os punks de boutique, cantados pelo The Clash”.