O dia em que o Atari e o Odyssey foram lançados no Brasil, na 29ª UD
Na data de hoje, mas em 1983, tivemos um marco na transição do Brasil para a informática doméstica: os videogames Odyssey e Atari, o computador CP300 e o CD de música foram apresentados ao público na 29ª UD.
Na época ainda não tínhamos um mercado organizado, e os produtos passavam por vários eventos de lançamento, mas a UD – que naquele ano foi de 14 a 24 de abril, no Anhembi – era um dos mais relevantes, porque formava, junto ao Salão do Automóvel, o calendário de maior visibilidade para o mercado consumidor, com cobertura ávida da imprensa e grande participação direta do público.
Abreviatura de Utilidades Domésticas, a feira UD era realizada em São Paulo (e às vezes também no Rio) desde 1960, e trazia os grandes lançamentos da indústria de eletrodomésticos, áudio e vídeo, e assim era natural que fosse vista como um grande canal para divulgar a nova geração de aparelhos domésticos para serem conectados às TVs.
O Odyssey estava em desvantagem, porém tinha a seu favor a expectativa de chegar antes às lojas, bem como o luxuoso stand da Philips, montado para apresentar ao público a novidade dos CDs de música.
Era o caso do Odyssey, prestes a começar a ser vendido no Brasil pela Philips, que não perderia essa oportunidade de mostrá-lo ao público em seu gigantesco stand de 1200 m² e gerar expectativa e demanda pelo seu videogame com teclado.
Era uma tentativa da Philips de inverter, aqui no Brasil, o placar de um jogo que no exterior já estava bem definido: o Atari vendia muito mais consoles e jogos que o Odyssey 21.
O Atari também ainda não estava à venda oficialmente no Brasil, e a Gradiente – que tinha acabado de assinar o contrato para representar a marca oficialmente no Brasil e prometia colocá-la à venda em agosto – também não perdeu a oportunidade de apresentá-lo por lá, e na véspera da abertura da feira reuniu a imprensa para tentar dar rumo à cobertura, afirmando que no exterior, para cada console de Odyssey vendido, a Atari vendia 11.
O Atari já era popular via contrabando, e os clones estavam alguns passos à frente da Gradiente, que buscou o licenciamento oficial nos EUA.
Só que vivíamos a reserva de mercado, e outros fabricantes aproveitavam para trazer o Atari pra cá sem se preocupar com formalidades como a autorização do fabricante original internacional. Além dos estimados 80.000 Ataris que já haviam entrado no país via contrabando, nessa mesma UD a Dynacom expunha o protótipo do seu Dynavision, e a Sayfi (depois Milmar) apresentava o Dactari, pioneiro na corrida pela chegada aos balcões das lojas, e que depois teve novas versões com o nome Dactar.
A Gradiente perdia o sono com esses clones do produto pelo qual ela pagou caro para licenciar e ainda estava longe de conseguir colocar nas lojas? Talvez, mas a declaração oficial à imprensa, durante a feira era de que a Gradiente não causará problemas a essa empresas, mas exigirá o cumprimento de algumas normas, como não usar o logotipo da Atari, nem chamar o produto de Atari - mas podia dizer que era compatível. "Isso é muito comum nos Estados Unidos. Há diversos fabricantes de jogos, oferecendo cerca de 200 diferentes títulos aos consumidores", concluiu um diretor.
Curiosamente, esse momento de início da febre dos videogames domésticos no Brasil veio quando o mercado internacional começava a cansar deles – tanto o Atari quanto o Odyssey lançados por aqui em 1983 eram praticamente os mesmos modelos que nos EUA tinham chegado em 1977 e 1978, respectivamente.
Outra marca presente ao mesmo evento foi a Prológica, que anunciou nele o seu computador pessoal CP300, versão doméstica, compacta e mais barata (sem disquetes, com teclado chiclete e conectado à TV) do CP500, seu clone do TRS80 Modelo III, que também estava exposto no evento, ao lado do CP200, um clone de Sinclair ZX81.
E não podemos esquecer: embora aqui sejamos fãs dos videogames e computadores domésticos dos anos 80, a 29ª UD também foi o palco do lançamento oficial no Brasil dos CDs de música, ainda descritos na cobertura jornalística como "discos digitais por raio laser", que as mesmas Philips e Gradiente também corriam para levar logo2 ao mercado brasileiro naquele outono de 1983, e promoviam com shows de laser nos céus noturnos da Avenida Paulista e do Anhembi.