Relembrando o Unitron Mac 512, o primeiro clone do Macintosh
Hoje é aniversário do fim melancólico da história do Unitron Mac 512, o primeiro clone do Macintosh do mundo, que foi apoiado pelo governo brasileiro ao longo dos seus 3 anos de desenvolvimento, até que o governo dos EUA entrou na queda de braço.
Na data de hoje, mas em 1988, a então Secretaria Especial de Informática (SEI), xerife da reserva de mercado, indeferiu o projeto do Unitron Mac 512, após intensa e duradoura pressão da Apple e do Departamento de Estado dos EUA, com participação de outras empresas de tecnologia internacionais que queriam colocar fim aos clones de seus produtos, produzidos livremente por aqui.
O Mac 512 foi o primeiro clone do Macintosh produzido no mundo, e era uma cópia quase exata de um modelo lançado pela Apple em setembro de 1984. Seu desenvolvimento começou em 1985, e já naquele primeiro ano foi apresentado – dentro de uma redoma de vidro – na Feira Internacional da Informática, um dos maiores eventos de TI da época.
Em 1986 o projeto já havia avançado e a Unitron voltou a expô-lo na Feira Internacional da Informática, mas desta vez ele estava ligado e acessível aos curiosos.
A ausência de drive de disquete de 3½ polegadas no mercado nacional foi um dios grandes obstáculos ao início da comercialização.
No ano seguinte, apesar das dificuldades técnicas (não havia drive de disquete de 3½ polegadas no mercado nacional e nessas circunstâncias era muito difícil conseguir autorização para importar) e políticas que já se acumulavam, a Unitron anunciou, em junho de 1987, que seu Mac 512 já estava em lojas como Compumicro e Fotoptica, embora apenas em equipamentos de demonstração.
A controvérsia internacional a respeito já era assunto da imprensa e de rodas de conversa, e apesar das aparências e dos fatos, a empresa defendia que seu modelo “compatível com o Macintosh” não era pirataria, mas sim reimplementação.
Entretanto, já no mês seguinte, a temperatura esquentou quando a reportagem da Folha descobrou que o Mac 512 estava, sim, à venda: embora o governo não tivesse autorizado a venda para consumidores até que fosse resolvido o embate com a Apple, o jornal descobriu que lojas que receberam as primeiras 40 unidades “exclusivamente para demonstração” as vendiam à pronta entrega, a Cz$ 200.000 e acompanhadas de apps piratas.
Nesse mesmo período, a Apple teve acesso dois exemplares do Mac 512 (há várias versões sobre quem e como os obteve) e os desmontou para estudo, nos EUA. Descobriu-se então que a ROM do equipamento era mera cópia de uma ROM original do Macintosh, o que deu à Apple um forte argumento1 para fazer com que o governo dos Estados Unidos se posicionasse contra uma empresa agora tida como pirata e acobertada por um governo que era parceiro comercial do país.
José Sarney bateu em retirada assim que o governo dos EUA começou a falar grosso.
O governo dos EUA entrou na parada falando alto e ameaçando impor barreira à importação de produtos brasileiros, como frutas e calçados. Assim, a gestão do então presidente José Sarney rapidamente suspendeu a aprovação definitiva do Mac 512 da Unitron, aprovou a toque de caixa ainda em dezembro de 1987 uma nova Lei de Software, e em 21 de março de 1988 deu o golpe final no projeto, com o indeferimento pela SEI, cujo fundamento era o mesmo da matéria da Folha de julho do ano anterior: a Unitron havia começado a comercialização do produto antes de sua aprovação final, invalidando o processo.
A história ainda teve mais um capítulo, quando a Unitron tentou salvar o investimento em engenharia reversa e lançar o Unitron 1024, um clone de Mac que não se parecia com o original, mas era compatível com seus softwares. Também não colou: o governo ainda lembrava das ameaças dos EUA, e em agosto de 1988 impediu a continuidade do projeto.
- Apesar da versão circulada no Brasil de que os aparelhos obtidos pela Apple estavam mesmo com uma ROM original da Apple, trocada para permitir testes de compatibilidade. ↩