Alfabetização em mídia: Finlândia incluiu o combate a desinformação nos currículos a partir da pré-escola

Recuperar a geração que já está caindo em tudo que é fake news é um desafio enorme, mas a Finlândia encontrou um bom caminho pra evitar que isso se repita com as próximas: estimular o senso crítico.

O papel que a desinformação e as fake news desempenham na realidade das sociedades vem crescendo ao redor do mundo, fato que é ao mesmo tempo causa e efeito da queda da confiança nas instituições e nos meios de comunicação.

Com o desenvolvimento da capacidade automatizada de gerar imagens, áudios e vídeos de situações artificiais, inserindo nelas personagens reais (deep fakes e similares), a tendência é essa situação de desequilíbrio aumentar.

Nos Estados Unidos, uma pesquisa de outubro concluiu que apenas 34% das pessoas confiavam nos meios de comunicação de massa para relatar as notícias de forma completa, precisa e justa, um pouco maior do que o menor número que a organização registrou em 2016.

Na Finlândia a situação é diferente: 76% dos finlandeses consideram os jornais impressos e digitais confiáveis, de acordo com uma pesquisa de agosto. E eles investem para poder continuar assim, e o fazem por meio de uma matéria incluída no currículo escolar em todas as séries, a partir da pré-escola, voltada a desenvolver o senso crítico.

A longa e informativa matéria do NYT apresenta os detalhes, e começa assim:

Uma lição típica que Saara Martikka, professora em Hameenlinna, Finlândia, apresenta a seus alunos da 8ª série é a seguinte: ela entrega vários artigos de notícias e, juntos, eles discutem: qual é o objetivo do artigo? como e quando foi escrito? quais são as posições centrais do autor?

"Só porque é uma coisa boa ou é uma coisa agradável não significa que é verdade ou é válido", disse ela. Em uma aula no mês passado, ela mostrou aos alunos três vídeos do TikTok e eles discutiram as motivações dos criadores e o efeito que os vídeos tiveram sobre eles.

Seu objetivo, como o dos professores em toda a Finlândia, é ajudar os alunos a aprender a identificar informações falsas.

A Finlândia ficou em 1º lugar entre 41 países europeus em resiliência contra a desinformação pela quinta vez consecutiva em uma pesquisa publicada em outubro pelo Open Society Institute. Autoridades dizem que o sucesso da Finlândia não é apenas o resultado de seu forte sistema educacional, que é um dos melhores do mundo, mas também por causa de um esforço conjunto para ensinar os alunos sobre notícias falsas. A alfabetização midiática faz parte do currículo básico nacional a partir da pré-escola.

"Não importa o que o professor esteja ensinando, seja educação física, matemática ou linguagem, você tem que pensar: 'OK, como faço para incluir esses elementos no meu trabalho com crianças e jovens?'", disse Leo Pekkala, diretor do Instituto Nacional do Audiovisual da Finlândia, que supervisiona a educação midiática.

Isso não resolve o problema dos países que já se encontram em situação falimentar, de parte considerável de suas populações, quanto à capacidade de selecionar e interpretar o conteúdo de fontes de informações diversas.

Mas é um exemplo de ação propositiva, e da existência de situações em que não se formou a mesma cultura corrosiva sobre o valor dos fatos e o conceito de verdade.