Secretaria da Educação de NY bane acesso ao ChatGPT nas escolas nova-iorquinas

Resposta histérica de educadores é similar à que já vimos acontecer contra a Wikipedia, o Google e as calculadoras.

Em dezembro eu perguntei o que veríamos antes nas notícias:

  • um estudante pego entregando trabalho acadêmico gerado por IA (ChatGPT e afins), ou
  • uma instituição acadêmica renomada revisando seus códigos de ética e integridade pra deixar explícito que isso especificamente não conta como autoria?

Ainda não vimos nenhum dos dois, mas a Secretaria da Educação da cidade de Nova York queimou etapas e já foi além da opção 2: baniu o acesso ao ChatGPT nos computadores da rede pública de ensino, como nos conta o Chalkbeat:

Estudantes e professores da cidade de Nova York não podem mais acessar o ChatGPT - o novo chatbot alimentado por inteligência artificial que gera textos incrivelmente convincentes e realistas - em dispositivos ou redes do departamento de educação, confirmaram funcionários da agência na terça-feira.

O departamento de educação bloqueou o acesso ao programa, citando "impactos negativos na aprendizagem dos alunos e preocupações com a segurança e precisão do conteúdo", disse um porta-voz. A mudança do maior sistema escolar do país pode ter efeitos em cascata, à medida que distritos e escolas em todo o país lidam com a forma de responder à chegada da nova tecnologia dinâmica.

A capacidade do chatbot de produzir redações perfeitas para enunciados que abrangem uma ampla gama de assuntos provocou temores entre algumas escolas e educadores de que suas tarefas de redação poderiam em breve se tornar obsoletas - e que o programa poderia incentivar trapaças e plágio. (...)

Mas será que o que vai ficar obsoleto são só as tarefas de redação? Parece algo mais profundo.

Afinal – e aqui a opinião é minha e não do artigo – se um chatbot de 2023 já consegue gerar instantaneamente redações que passam como perfeitas na avaliação pelos professores, cabe questionar a razão de continuar avaliando hoje os alunos pela capacidade de gerá-las também, já que as ferramentas estarão no mercado e na academia quando esses alunos se formarem.

Não estou aqui afirmando que a nova ferramenta é virtuosa (o ChatGPT em si tem vícios importantes a serem cuidadosamente evitados).

Mas a disponibilidade do ChatGPT é um fato concreto, e penso que a solução educacional que melhor atende o aluno, o mercado e a sociedade será melhor construída a partir do questionamento acima, e não de uma tentativa fadada ao fracasso de tentar bloquear o uso de uma ferramenta tecnológica já amplamente disponível.

Os comentários de educadores mencionados na matéria acima são bons, lembrando de quando as escolas queriam banir o Google e a Wikipedia, por razões parecidas e também infundadas.

A rejeição à tecnologia no ensino não é novidade. No meu tempo de estudante, ainda não havia a WWW, mas ainda se rejeitava as calculadoras, embora estivessem começando a serem aceitas, e não precisassem mais ficar escondidas.

A imagem acima, com professores em uma manifestação contra as calculadoras, parece fake ou um exagero, mas esse protesto de professores contra a permissão de uso de calculadoras aconteceu mesmo, e era voltado a repelir uma mudança de norma que tornaria permitido o uso de calculadoras no ensino fundamental.

Em décadas mais recentes, vimos as mesmas preocupações (e as mesmas reações) contra pesquisas no Google, ou contra a Wikipedia, ou até contra o rádio.

Tudo passa, tudo passará – e não quer dizer que isso gera um ensino de melhor qualidade: a questão é que negar a existência dessas tecnologias também não gera.